Faz tempo que alimento a
ideia de escrever sobre times não profissionais que reuniram grandes figuras. O mais emblemático deles carrega
também o nome mais bem sacado de todos. Falo
do "Sentimento Futebol Clube", criado por Plínio Marcos, pelo jornalista, Brasil
de Oliveira, e pelo zagueiro, Estevam Soares, que mais tarde viria a ser
treinador. O Sentimento era uma seleção de boleiros que se reuniam pra jogar a
favor de alguém. A definição é do ponta-esquerda do time, o próprio Plínio
Marcos. Na biografia dele, "Bendito Maldito", escrita por Oswaldo Mendes, é
possível saber dessa esquadra com detalhes e como, certa vez, Plínio entrou numa
tremenda dividida com um delegado para salvar - literalmente - a perna de
Estevam.
E se hoje estou aqui falando finalmente disso é porque na semana
passada tive a alegria de conversar com o ex-jogador, Afonsinho. Ele mesmo, o
cabeludo que em plena ditadura não medrou e se tornou o primeiro jogador
brasileiro dono do próprio passe. Afonsinho foi o mentor de um time dessa
natureza também, o "Trem da Alegria". Garrincha, Nilton Santos, Fio
Maravilha, foram alguns dos tantos ilustres que vestiram a camisa do
"Trem". Íntimo de intelectuais e músicos, um dos amigos de Afonsinho era, e é, Paulinho da Viola, que por sua vez capitaneava o "Chulé Futebol Clube", que de
chulé não tinha nada. Afinal, era dono de um elenco estrelado, do qual fazia
parte - entre outros artistas - o músico Moraes Moreira.
Por falar em Moraes Moreira, recentemente lendo o livro
que conta a história de Dadi Carvalho, que também é amigo do Afonsinho, e
baixista com lugar garantido na primeira divisão da nossa música, fiquei sabendo
de um outro time nascido assim. Você pode até não lembrar de quem se trata, mas certamente já ouviu o
baixo tocado por ele. O que só não seria possível se você até hoje nunca tivesse ouvido alguns dos maiores sucessos de Caetano
Veloso, Gal Costa e Jorge Ben.
Dadi, antes de
tudo isso, fez parte do conjunto Novos Baianos. E como todo mundo sabe o pessoal
por lá adorava uma bola. As peladas para eles eram tão essenciais quanto fazer um som. Tanto é
que um dos discos do grupo se chama "Novos Baianos FC". Pois bem, Dadi conta em sua auto-biografia que ser titular no time dos Novos Baianos não era
fácil. Diante disso só teve uma saída: fundar seu próprio time, magnificamente
chamado de "Passa a bola meu bem". No Passa, formaram nomes como Evandro
Mesquita, o eterno líder da Blitz. E no relato, Dadi, que é botafoguense
apaixonado, aproveitou pra falar do dia em que ele viveu a maior glória como
torcedor do time da estrela solitária. É que certa vez o Botafogo fez um jogo
contra os Novos Baianos. E o que aconteceu? Dadi, preterido pelos amigos, acabou
sendo chamado pra entrar no outro time. E a partir daquele dia, legitimamente,
passou a encher a boca e dizer que um dia jogou no Botafogo. Quem dirá o
contrário? O futebol tem dessas coisas.
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