Nunca se falou tanto em esporte neste país. Os comandantes da Pátria de olho em
holofotes planetários fizeram do Brasil sede da última Copa e da Olimpíada que
vêm aí. Mas em nenhum momento pensaram de modo respeitável no esporte. Tivessem
feito isso teriam trilhado outros caminhos. Minha experiência de vida - e
profissional - manda desconfiar de qualquer projeto que não una o esporte à
educação. O esporte deve, antes de mais nada, ensinar o homem a lidar com seus
limites, a conhecer o próprio corpo, a desfrutar dos seus benefícios do ponto de
vista físico e mental e, por tabela, deixar provar do que é capaz a disciplina.
Normal que alguns não segurem a onda e queiram mostrar que são melhores do que
os outros.O esporte tem de estar à mão. Uma escola sem quadra esportiva ou sem
aulas regulares de educação física não condiz com nenhuma nação que se pretenda
evoluída e saudável. Mas o que temos? Um ensino em que a Educação Física está
longe de ser tratada devidamente, colocada entre aulas de outras matérias. E esse é um dos motivos que me fazem não suportar esse papo de legado.
Faz uns dias li uma matéria sobre
o projeto que a Alemanha está colocando em prática para o futebol. Uma espécie
de próximo capítulo do planejamento que os levou ao tal sete a um. Não se trata
de algo mirabolante, mas que impressiona pela cidadania e simplicidade.
Baseia-se em dar a todas as escolas diretrizes para que a criançada se inicie no
jogo de bola. Quadras de 20 x 15, com quatro jogadores pra cada lado, sem
goleiro. E assim vai. Aos maiores trataram de garantir que terão um lugar
próximo deles para lapidar seus talentos. E com trezentos e tantos milhões
gastos pela Confederação do país estão erguendo em Frankfurt um centro já
apelidado de "A Catedral". O local congregará tudo e todos. E vejam. A decisão
de erguê-lo foi tomada depois de uma consulta popular, já que a construção
envolvia isenções de impostos.
E aqui? Aqui se você tem perto de meio século de
vida como eu, sabe muito bem que não temos mais jogos colegiais, os jogos
universitários morreram. E iniciativas como os Jogos Abertos do Interior tiveram
a alma liquidada pela esperteza. Faz uns dois anos participei de um evento em
Piracicaba. O Professor Idico, que lá me recebeu, durante um jantar me contou
todo esforço que tinha feito certa vez para resgatar os Jogos. Coisas básicas
como um regulamento que impedisse os atletas de mudar de cidade. Eles até
poderiam escolher a cidade que gostariam de defender, mais feita a escolha
deveriam permanecer ligados a ela por pelo menos três temporadas. O que evitaria
esse absurdo que se vê hoje, cidades contratando atletas de destaque só pra
fazer bonito por uns dias e depois tchau.
Ora, incorporamos tanta baboseira do " american way of life". Há quem diga até que a nossa derrocada educacional
começou no dia em que decidimos adotar o padrão norte-americano. Pra quem não
sabe do que se trata basta escrever a palavra MEC/USAID no Google e pronto. Se
pelo menos tivéssemos copiado deles essa intimidade que eles sustentam entre o esporte e a
universidade, talvez nossa situação fosse outra. Mas por hora, não somos nem a
Pátria educadora que nossa presidente prega, e muito menos uma Pátria Esportiva.
E essas têm sido algumas das nossas grandes derrotas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário