quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Nossa Pátria Esportiva




Nunca se falou tanto em esporte neste país. Os comandantes da Pátria de olho em holofotes planetários fizeram do Brasil sede da última Copa e da Olimpíada que vêm aí. Mas em nenhum momento pensaram de modo respeitável no esporte. Tivessem feito isso teriam trilhado outros caminhos. Minha experiência de vida - e profissional - manda desconfiar de qualquer projeto que não una o esporte à educação. O esporte deve, antes de mais nada, ensinar o homem a lidar com seus limites, a conhecer o próprio corpo, a desfrutar dos seus benefícios do ponto de vista físico e mental e, por tabela, deixar provar do que é capaz a disciplina. Normal que alguns não segurem a onda e queiram mostrar que são melhores do que os outros.O esporte tem de estar à mão. Uma escola sem quadra esportiva ou sem aulas regulares de educação física não condiz com nenhuma nação que se pretenda evoluída e saudável. Mas o que temos? Um ensino em que a Educação Física está longe de ser tratada devidamente, colocada entre aulas de outras matérias. E esse é um dos motivos que me fazem não suportar esse papo de legado. 

Faz uns dias li uma  matéria sobre o projeto que a Alemanha está colocando em prática para o futebol. Uma espécie de próximo capítulo do planejamento que os levou ao tal sete a um. Não se trata de algo mirabolante, mas que impressiona pela cidadania e simplicidade. Baseia-se em dar a todas as escolas diretrizes para que a criançada se inicie no jogo de bola. Quadras de 20 x 15, com quatro jogadores pra cada lado, sem goleiro. E assim vai. Aos maiores trataram de garantir que terão um lugar próximo deles para lapidar seus talentos. E com trezentos e tantos milhões gastos pela Confederação do país estão erguendo em Frankfurt um centro já apelidado de "A Catedral". O local congregará tudo e todos. E vejam. A decisão de erguê-lo foi tomada depois de uma consulta popular, já que a construção envolvia isenções de impostos. 

E aqui? Aqui se você tem perto de meio século de vida como eu, sabe muito bem que não temos mais jogos colegiais, os jogos universitários morreram. E iniciativas como os Jogos Abertos do Interior tiveram a alma liquidada pela esperteza. Faz uns dois anos participei de um evento em Piracicaba. O Professor Idico, que lá me recebeu, durante um jantar me contou todo esforço que tinha feito certa vez para resgatar os Jogos. Coisas básicas como um regulamento que impedisse os atletas de mudar de cidade. Eles até poderiam escolher a cidade que gostariam de defender, mais feita a escolha deveriam permanecer ligados a ela por pelo menos três temporadas. O que evitaria esse absurdo que se vê hoje, cidades contratando atletas de destaque só pra fazer bonito por uns dias e depois tchau. 

Ora, incorporamos tanta baboseira do " american way of life". Há quem diga até que a nossa derrocada educacional começou no dia em que decidimos adotar o padrão norte-americano. Pra quem não sabe do que se trata basta escrever a palavra MEC/USAID no Google e pronto. Se pelo menos tivéssemos copiado deles essa intimidade que eles sustentam entre o esporte e a universidade, talvez nossa situação fosse outra. Mas por hora, não somos nem a Pátria educadora que nossa presidente prega, e muito menos uma Pátria Esportiva. E essas têm sido algumas das nossas grandes derrotas.

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