Imagine-se em um campo qualquer de várzea. Ali ao lado está um
sujeito mal ajeitado no pedaço de tábua que faz o
papel de arquibancada. Ele tem os olhos grudados no homem do apito. O enxerga,
assim como você, sem muita precisão, prejudicado pela distância e pela poeira
que levanta do chão de terra batida. Ainda assim, ele jura ter visto que o
jogador do time para o qual ele está torcendo não fez penalti coisa nenhuma.
Você acaba de pensar a mesma coisa sobre o lance. Mas o homem agora está bem
perto da linha da grande área fazendo o apito soar estridente, com a mão direita
apontando pra marca da cal. Em meio ao burburinho o sujeito levanta rápido, faz uma concha com as mãos na frente da
boca - que é pra que o que vai ser dito ecoar bem - e grita com toda
força:
_ Ô seu
árbitro, tu tá de sacanagem !
Além da ausência de um palavrãozinho
sequer na frase tem outra coisa que destoa: Um sujeito no calor do jogo chamar o
juiz de árbitro. É ou não é? Tô cansado de saber que é o certo, mas errado
mesmo é essa mania de querer corrigir o que se faz claro. Quem apita futebol
sempre foi chamado de juiz, e eu faço questão de continuar me dando o direito de
lhe chamar assim. Árbitro soa tecnicista. Ouçam bem a sonoridade: juiz ! O
termo cai a esse cidadão que aceitou tão ingrata tarefa como roupa de corte
fino. E às favas com o politicamente correto. Nessa toada bandeirinha virou
auxiliar, passe virou assistência.
E tem outra coisa que anda me chamando
a atenção quando se fala no juiz. É o seguinte, em outros tempos o cara tinha
noção de onde estava se metendo e dava um jeito de se impor com naturalidade.
Mas hoje em dia os caras não aceitam o
nobre papel de chegar ao fim de um jogo sem serem percebidos. É um tipo de
nobreza que não lhes interessa. E mais, já faz tempo entram em campo com ar e
atitudes militares. Deram pra ser bombadinhos. Talvez pensem que o visual por
si só se encarregará de transmitir o aviso de que é melhor não mexer com
eles.
Nada contra, nem a favor. Só continuo achando que por mais que não lhes
possa faltar certo preparo físico, um mirradinho, bem intencionado e com fôlego,
pode fazer muito pelo futebol. Mas admito, o problema pode estar comigo que
continuo acreditando inocentemente, ou burramente mesmo, que o futebol ainda
pode ser parecido com aquele que eu via antigamente. O que por tabela explica
também essa minha teimosia de querer continuar chamando árbitro de juiz.
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