Não encare o título como provocação. Ou só como
provocação. Desde que o compositor Renato Russo fez dessa questão o título de
uma música que virou sucesso e a Polícia Federal a usou para batizar uma das
fases da operação Lava Jato muita gente deve ter coçado a cabeça na vã tentativa
de respondê-la. Que país exatamente é esse eu também não sei, mas sei que
os ufanistas até tempos atrás diziam, e alguns ainda dizem, que depois de sediar
uma Copa e uma Olimpíada esta nação jamais seria a mesma. Puro delírio.
Os tais
eventos pelo que temos visto só reforçaram o nosso jeito imprudente, quase
leviano, de lidar com temas da maior importância. Ou não é imprudência erguer na
Amazônia um estádio de 670 milhões que custa 700 mil por mês, e depois ficar
sabendo que a FIFA, por sua vez, lucrou módicos 15 bilhões de reais com o nosso
Mundial? O maior resultado financeiro da história da entidade. Agora, acabamos
de ver o governo elaborar uma medida provisória para renegociar as dívidas
colossais que os clubes de futebol deixaram rolar durante anos. E que nunca
tiraram o sono de nenhum cartola. Avançamos? Sim, avançamos.
Mas quem nos
garante que aos poucos a coisa não irá mudar de tom? Será que veremos um dia um
presidente de clube atrás das grades por gestão temerária? Afinal, podemos não
conseguir responder com clareza que país é esse, mas sabemos muito bem que não
se trata de um país tão puro que não guarde entre seus duzentos milhões de
habitantes um cartola que não merecesse tal penitência. Gostaria de acreditar
que as medidas anunciadas irão revelar no futuro um clube de futebol entre os
nossos totalmente livre de dívidas, agindo de modo absolutamente transparente.
Pelo que vejo nas manchetes somos um país que leva pra cadeia quem vende
estilingue, mas que segue incapaz de arpoar os tubarões que nadam em dinheiro sujo. E
não vamos achar que só o futebol nos resume. Faltando pouco mais de um ano para
que o Rio de janeiro sedie uma Olimpíada nosso basquete não ainda não sabe se
terá direito às vagas diretas por causa de uma dívida com a Federação
Internacional. Dívida, aliás, contraída pra pagar um convite pra disputar um
mundial. Já que não tivemos competência para conquistar esse direito em
quadra.
Em 2016 poderemos até figurar entre os mais bem colocados como prometem
os manda-chuvas do esporte nacional. Mas daí a acreditar que nos tornamos uma
potência esportiva vai chão. Dar de cara com o Brasil entre os melhores do
planeta em um quadro de medalhas pode não ser impossível, mas no fundo só
ajudará a tornar ainda mais desafiadora a velha questão: que país é
esse?
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