Até uns dias atrás parecia que por estas bandas o que mais colocava em risco
a convivência pacífica era reunir num mesmo lugar torcedores rivais. Mas não
existe nada tão ruim, que não possa ficar pior. Pensem comigo. O tal do dia
quinze de março vem chegando aí e começo a suspeitar que isso pode vir a ser
fichinha perto do que se avizinha. Há no ar um clima de Fla/Flu que nada tem de
saudável. Não quero acreditar que o futebol com todo o seu caldo cultural tenha,
de alguma forma, conseguido adiantar à nossa sociedade o que seria em linhas
gerais o nosso comportamento futuro. Mas faz tempo que as nossas
arquibancadas emitem sinais claros de uma cultivada intolerância.
Não que não
exista entre nós quem seja capaz de resistir e permanecer na arquibancada
tirando um sarro, curtindo na boa, fazendo onda. Difícil é ignorar que esse
terreno pantanoso não seja fértil pra esconder e fazer crescer um outro tipo de
sujeito. Um tipo que vê no diferente um inimigo. Um tipo que não consegue
conviver sem o pé atrás com quem defende outras cores. E que no limiar da falta
de sensibilidade pro diferente se diz arrasado ao descobrir que o próprio filho
anda se engraçando com outras bandeiras.
Futebol e sociedade estão mais do que
nunca frente a frente. São como dois espelhos refletindo tudo o que lhes
chega. E se essa intolerância clubística pode ser encarada, assim como sugiro,
como uma vanguarda do nosso retrocesso comportamental, não deve ser por outro
motivo que desde sempre quiseram nos convencer que existem times de pobres e
times de ricos. Time da elite e time de mano. E por aí vai. Somos torcedores de
uma terra assim, dividida, polarizada.
Os que acreditam em algo nessa linha
deveriam pensar também que diante dessa realidade de extremos os times só de
pobres a essa altura estariam condenados a arquibancadas vazias, ou quase, já
que nos últimos tempos nem os preços da nossa gasolina e nem os da nossa energia
elétrica têm sido páreos para o preço dos nossos ingressos. Ingressos para
Arenas suntuosas que dão a impressão de terem saído de um país que ainda não
tivemos, um país que ainda não conquistamos.
Talvez, tiradas como num passe de
mágica daquele país do futuro que um dia disseram que teríamos.
É chegada a hora
de rever as táticas. De se misturar sem se desentender. Não se iludam. Estamos
todos perdendo. E o jogo, seja qual for o domingo, sempre envolverá mais, muito
mais do que simplesmente dois times.
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