quinta-feira, 19 de março de 2015

Recordações


Foi um post semeado no invasivo Facebook que eu mal frequento que me levou a escolher o tema de hoje. Durante muitos anos fiz parte de uma escolinha de voleibol. Já não era moleque. Na época, provavelmente, procurava algo pra rivalizar com o bate-bola que como todo garoto da minha geração praticava incessantemente. Além dos treinos, gastei muitas manhãs e tardes em jogos travados nas areias de São Vicente e do José Menino. Onde uns primos mais velhos costumavam armar uma rede muito bem frequentada. Em especial no período de férias, quando muitos dos atletas que jogavam em times de São Paulo desciam a Serra e, sem resistir, pediam um lugarzinho na brincadeira. O voleibol brasileiro florescia e nos dava presentes incríveis. O mítico jogo com a União Soviética no Maracanã.



Era uma curtição ver nosso vôlei indo cada vez mais longe. Naqueles tempos o cara que eu gostava de ver jogar era o Xandó. O sujeito não tinha ar de galã, como o Renan. Não dava saques improváveis, como Bernard. Xandó tinha era uma patada de impor respeito. Um ar meio desencanado. Nos idos da década de 80 raramente víamos imagens de torneios disputados no exterior. Mas lembro bem que um dia alguém apareceu no treino com uma revista gringa. Folheamos a tal com entusiasmo, embasbacados com os ombros dos bloqueadores indo além da rede. Entre as fotos estava uma que jamais esqueci. Era do Xandó batendo uma bola de trás.


Ele tinha os pés bem distantes do chão. Dar de cara com aquela impulsão já causava impacto. Mas a posição do corpo é que impressionava. Com o braço totalmente esticado e pra trás o corpo de Xandó tinha o desenho de um arco. Fiquei imaginando a força do movimento quando encontrasse a bola lá perto da rede.  Nunca fui de cultivar idolatrias. Nunca fui de achar que ídolos têm de ser santos. Mas como eu gostava de ver o Xandó jogar. Deveria ter dito isso a ele nos breves encontros que tivemos na fila do caixa de um supermercado ali perto do canal seis anos atrás. 


Mas chega de história, que a essa altura vocês devem estar querendo saber qual foi o post que me levou a escrever tudo isso. O post, era justamente do Xandó, externando um desgosto com esse momento turbulento do nosso país, sugerindo a todo mundo ir trabalhar e dizendo que nessa vida já tinha feito de tudo. Tido barraca de praia, vendido tapete. Aí eu pensei comigo: A vida deu voltas, mas o Xandó manteve o estilo. Segue de peito aberto.

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