Muito se fala na relação dos brasileiros com a seleção. Relação que não seria a mesma de outros tempos. Mas se tudo muda, porque é que justamente a nossa relação com a seleção brasileira iria permanecer intacta, imutável?
Há pouco mais de dez anos eu estava envolvido na produção de um documentário sobre os trinta anos da conquista do tricampeonato mundial no México e lembro muito bem do entusiasmo do pessoal ao ouvir da boca do José Genoino, ainda um ícone ilibado da esquerda (eu disse que o tempo muda tudo), que naquela época quando a bola rolava não tinha ideologia que resistisse. Se não me engano o depoimento foi dado ao repórter Dorival Brammont. O poder de transformação do passar dos dias é tão poderoso que nem mesmo as ideologias restaram.
Seja como for, a frase de Genoino condensava de modo preciso a relação do povo com a seleção nos idos de 1970. Não vou ficar aqui papagaiando o que estamos cansados de ouvir. Que a seleção quase não joga no Brasil, que nossos grandes nomes partem cedo para o exterior, que nossos craques estão mais interessados nos milhões do que em defender a seleção.
Também não vou ter a petulância de apontar quais seriam as razões reais para esse estado atual de desinteresse pelo time canarinho. Quem sabe? Só posso usar da sinceridade e dizer que não tenho lembrança de ter visto um jogo contra a Argentina com tão pouco entusiasmo como foi o caso dos dois últimos. É bem verdade que a Argentina contribuiu pesadamente para esse meu desânimo. Mas vem aí a Costa Rica e depois o México. Isso por acaso lhes entusiasma?
Bom, acredito que só uma vez na era Mano Menezes essa relação pareceu revigorar. Foi na primeira convocação dele, quando mais do que nos últimos tempos, a seleção foi um retrato fiel da vontade popular. Depois disso, graças a Andrés Santos e Fernandinhos, esse contentamento, essa concordância, essa cumplicidade, só diminuiram. É a impressão que tenho.
E para piorar ainda mais temos esse conflito com os clubes, que ficam sem seus jogadores mais importantes em momentos-chave. Intuo que a única coisa capaz de zelar por essa relação seria resgatar a sua versão mais apaixonante e apaixonada. A única coisa capaz de mudar isso seria construir um time que nos fizesse lembrar da sublime seleção de setenta ou que nos arrebatasse como fez a de 82, o que não será viável sem uma dose gigantesca de ousadia que, infelizmente, não vislumbro em lugar algum.
O que ouvimos é que precisamos cautela para usar o talento de Lucas, que precisamos atenção porque um time mais ofensivo irá comprometer a nossa retomada de bola e diminuir o avanço dos laterais. Ou seja, por hora, tentam nos seduzir com um discurso desgastado de renovação, tentando esconder o óbvio. A grande estratégia dos homens que comandam a seleção brasileira atualmente é montar um time para vencer, nada mais que isso.
Ao contrário dos times, que muitas vezes calam torcidas com um triunfo, a seleção sempre precisou e precisa ir além. Mais do que qualquer outra equipe sua missão não é provar eficiência - como não deveria ser para ninguém que gosta de jogar bola - e sim fazer um povo feliz em grande estilo. Foi assim que nos acostumaram, foi assim que sempre nos venderam a ideia, e agora querem nos tirar essa oportunidade, essa alegria.
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
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