Neste mesmo espaço tempos atrás comentei a chegada do ex-jogador Romário ao Congresso. Vê-lo eleito deputado federal me causou temor e faço questão de lembrar a razão. Alguém que tenha desenhado a trajetória que ele desenhou nos gramados deveria pensar muito antes de permitir que as páginas mais recentes de sua biografia fossem escritas no campo político.
De lá pra cá Romário tem demonstrado muito interesse pelos assuntos que envolvem o Mundial que nosso país irá sediar. Esta semana, no Fórum Legislativo sobre a Copa 2014 realizado na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro falou em tom severo que o Brasil não pode se render aos interesses da FIFA, que "...precisamos colocar a FIFA em seu devido lugar".
O nobre deputado vem construindo frases de efeito que, muito provavelmente, não levarão a lugar algum. Um dia antes tinha postado em sua página no twitter o seguinte comentário: " Lei Geral da Copa é o seguinte...galera. O Brasil entra com aquilo, a FIFA entra com aquele outro aquilo... e o Brasil sifu...". O mesmo Romário que, segundo a Folha de São Paulo publicou na terça, é o único brasileiro entre os 22 integrantes do Comitê Técnico e de Desenvolvimento da entidade.
Escolhi o tema porque acredito que a mídia tem sido condescendente com o baixinho. Já ouvi por aí que ele está muito bem assessorado e, quando inaugurou seu site para fiscalizar as obras da Copa no início de agosto e lá colocou uma entrevista com o jornalista escocês Andrew Jennings, conquistou amplo espaço e elogios nos mais variados meios de comunicação. Jennings, pra quem não lembra, havia sido o responsável pela notícia do acordo feito com a justiça suiça no qual vários cartolas tinham sido obrigados a devolver dinheiro de propina recebido da falida ISL, e entre eles estaria Ricardo Teixeira.
Não quero desmerecer as atitudes de Romário, reconheço a importância de uma voz discordante a respeito do assunto no Congresso, mas acho que mesmo com toda a dificuldade por estar tendo que se situar em um ambiente totalmente novo e cheio de detalhes, um deputado federal bem intencionado pode muito mais. Até porque a essa altura lá se vai quase um ano do seu primeiro mandato.
Mas o que tem me causado maior incômodo é saber que Romário fechou acordo com uma emissora de TV e trabalhará como comentarista de futebol durante os Jogos Pan Americanos. Desconheço sua agenda, não imagino qual será a combinação de datas, e nem mesmo se ele terá direito a uma licença que o permitirá cumprir essa função. Acho isso simplesmente incompatível, seja qual for o argumento.
Arrisco-me a afirmar que os que votaram nele não esperavam vê-lo na condição de comentarista pelos próximos quatro anos. Como no Brasil o eleitor costuma aceitar todo tipo de falta de postura, estou ciente do risco enorme que corro de queimar a língua. Não vi, nem ouvi, ninguém falar nada a respeito disso. Classifico essa atitude de Romário como uma tremenda bola fora.
É claro que essa não é a única coisa esquisita que vemos por aí. Outra coisa que gostaria de comentar é a sucessão corintiana. Andrés Sanchez diz que não quer nem saber de reeleição, já nos bastidores vai deixando claro que quer continuar sendo o homem forte por trás do Itaquerão. O argumento seria o de que trabalhou muito por isso e que o novo estádio poderia virar alvo dos adversários, sofrer paralisações, e isso colocaria tudo a perder.
Ora, é muito fácil aceitar o fato de não ser mais o presidente desse jeito. Imaginem o Lula dizendo que estava em paz com sua saída mas que não abriria mão de continuar dando as cartas no famoso PAC, o nosso Programa de Aceleração do Crescimento, que de tão importante foi fundamental para sedimentar o perfil de gerenciadora e para eleger a atual presidente, Dilma Roussef.
Por mais que a gente saiba que nos bastidores os mais poderosos continuarão a ser os mais poderosos, colocar a coisa nesses termos é demais. A conclusão não pode ser outra. Se o futebol anda mais cara-de-pau do que a nossa política, não será o Romário que irá salvá-lo.
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
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