Com a vossa permissão vou tratando aqui de misturar nesse caldeirão de palavras assuntos diferentes, pois que hoje acordei com um receio tremendo de ser visto como um chato. O que pode ser inevitável, eu sei. Devagar aí com a graça. Mas quero menos ainda que pese sobre essa minha cuca a culpa de não ter feito pelo menos meio artigo na intenção de obter a salvação.
Tô cansado de saber que o sujeito que se dá ao trabalho de falar sobre futebol com certa sobriedade e sem deslumbre está fadado a ser visto como um mala. Mas fazer o que se essa minha bendita consciência - seja lá o que isso for - não me dá sossego à alma?
O primeiro e mais agradável dos temas é o direito que qualquer um tem de perder gols. Não há nada nesse mundo que exista só com perfeição, o próprio mundo em si não me deixa mentir, e não seria o futebol a exceção. Você mesmo, se é metido a jogar bola, já deve ter tido seu momento Loco Abreu.
O jogador do Botafogo, que pode ser acusado de tudo menos de não ter estilo, pagou o mico? Pagou! Mas senhores, a bola é redonda e não perdoa a mínima imperfeição motora. O pior de tudo foi ver o lance do Loco Abreu comparado ao do Rivaldo. Na minha visão duas situações totalmente distintas.
O lance de Loco Abreu só esperava uma conclusão qualquer. O de Rivaldo exigia a escolha de uma maneira para concluí-lo. Ouvi de tudo, até especialista dizendo que naquela situação o camisa dez do tricolor tinha que ter enchido o pé. Rivaldo tentou o sublime. Teve a coragem de optar pelo mais difícil. Quem garante aos devotos do chutão que a bola não teria resvalado em alguém e ido parar nas arquibancadas?
E pra não dizerem que estou aqui puxando o saco do Rivaldo e pra manter viva a possibilidade de ser visto como um mala, aproveito pra dizer que nem tudo que ele faz me agrada. No jogo contra o Corinthians, por exemplo, que terminou num retumbante zero a zero, Rivaldo teve a última chance do jogo em uma cobrança de falta. Optou por bater direto pro gol e viu a bola se perder por cima do travessão adversário.
Naquela situação, ao contrário, o que me parecia mais inteligente era alçar a bola na área e deixar o bicho pegar, como fez Rogério Ceni no lance que levou o tricolor ao empate com o Botafogo no último domingo. Nem sempre a coragem de optar pelo mais difícil é sinônimo de inteligência. O grande jogador sempre se imagina capaz de tudo, só o equilíbrio o torna diferente. Jogar futebol é difícil como fez questão de lembrar o jogador do Botafogo depois da partida.
Feitas tais considerações, com as quais o nobre leitor pode concordar ou não, vou logo azedando a conversa pra não deixar passar em branco essa Lei Geral da Copa. A votação dela nos dará a medida exata do quanto estamos vendidos. Semanas atrás citei a visita de consultores alemães dizendo que o Brasil tinha que jogar duro com a FIFA. Volto a dizer, acho vergonhoso que tenha que vir alguém de fora nos dizer isso.
Veja tudo que o governo cedeu, o tamanho da cobiça dos cartolas. A entidade máxima do futebol não está brigando porque o nosso governo decidiu barrar o descalabro que é permitir a livre transferência de divisas, as isenções de impostos para a FIFA e seus comparsas. Nada disso. Teria ameaçado levar a Copa de 2014 para outro lugar porque a Lei enviada para o Congresso não retirou a meia entrada, porque o governo - que está bancando praticamente tudo - quer que as TVs que não são detentoras dos direitos do Mundial possam usar três por cento dos jogos e trinta segundos de eventos. Repito, três por cento e trinta segundos.
Melhor seria que a Copa fosse mesmo parar nos EUA, assim poderíamos alimentar a ilusão de ter resgatado uma parte ínfima que fosse da nossa soberania. De outro modo me restará a certeza de ter sido derrotado muito antes da bola ter começado a rolar, e sabe-se lá onde.
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
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