quinta-feira, 23 de maio de 2024

O VAR deve acabar ?



Não sei o que você pensa sobre o VAR. É fato que aqui entre nós adquiriu maus modos. Chegou querendo mandar no jogo. E isso não é coisa que se faça. Extrapolou muita vezes o que seria seu papel. Talvez porque recebido com pompas, com ares de salvador da pátria. Hoje me dá a impressão muitas vezes de assombrar a diversão do torcedor. E por falar em torcedor. O mundo moderno não é mesmo bolinho, como diria minha avó. Onde já se viu condená-lo a segurar um grito de gol na garganta até que todos os ângulos de um lance garantam que o que se deu em campo foi dentro da lei. Enfim, o Vídeo Assistant Referee, popularmente conhecido como VAR, virou uma grande questão. O nome sugere alguém trajado de autoridade para concluir por vídeo o que foi ou não foi legal enquanto a bola rola. Ocorre que pela gritaria que tem sido ouvida quase toda vez que se revela algum áudio do lugar em que trabalha a decisão que ele aponta tem sido uma mistura de pontos de vista e urgência. Em que triunfa, não necessariamente quem tem o melhor argumento, mas aquele com maior poder de persuasão ou patente. Essa é minha sensação. 

E nessa bagunça não poderia dar certo. Não teria como ter um futuro promissor. Não com esse tipo de comportamento. Ou de companhias, se preferirem. Algumas rodadas atrás testemunhei uma cena em que, depois do que pareceu uma eternidade, se decretou o gol. A essa altura os jogadores já tinham esgotado a capacidade de encher a paciência do juiz, ou de bater boca entre eles. Estavam reunidos em pequenos grupos. E quando veio a grande notícia davam a impressão até de já ter esquecido que algo estava por ser decidido. E daquele marasmo campal veio a explosão do gol. Despertando por tabela o poderio vocal do narrador.  Um negócio esquisito, sabe?

 Já o VAR inglês sabemos, não deve ser por acaso, é um sujeito mais polido que o nosso. Mas ainda assim, vejam só, andou testando os limites da paciência inglesa. Não sei a correria do dia a dia lhes permitiu saber que no próximo dia 06 de junho será votada uma petição feita pelo time do Wolverhampton para encerrar as atividades do VAR na Premier League, torneio tido como modelo para todos os outros campeonatos nacionais mundo afora. Os argumentos são tão polidos quanto os ingleses. Apontam numerosas consequências negativas não intencionais. Tenho duvidas sobre isso. Mas concordo inteiramente quando dizem, entra outras coisas, que o constante discurso do VAR tira o foco da própria partida e mancha a reputação de quem a organiza. 

Por essas e outras sugiro que voltemos à comunhão primal com o jogo de bola. Vamos ver uma pelada. Algum jogo desses em que o homem  vestido de preto, armado de apito, continua sendo um soberano. Testemos nosso olhar, nossa capacidade de atenção. Lembro bem de na minha época de moleque, enquanto íamos descobrindo a emoção de estar em um estádio, dos lamentos tardios de uns e outros que, uma vez na arquibancada, se distraiam. Perdiam o momento do gol enfeitiçados por algum outro detalhe. E na mínima fração de tempo seguinte a que o fato tinha se dado - quase instintivamente - achavam que teriam direito a um replay. As maravilhas tecnológicas desde sempre nos seduziram. Confortos do tipo sempre tiveram um quê de traiçoeiros. Duvidemos da tecnologia. Acreditemos piamente na alma do futebol. Pode ser a salvação !

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