O preço dos ingressos escancara , mais do que qualquer outra coisa, como pensam os homens que comandam o futebol no nosso continente. Não creio que pensem de modo muito diferente dos outros. Mas fato é que na Europa, por exemplo, o preço de um ingresso para jogos de primeira linha beira oitenta e cinco dólares, enquanto a final da Libertadores terá o ingresso mais barato custando cerca de duzentos dólares ou, um salário mínimo. Os números bastariam para mostrar o abismo entre um e outro, mas há ainda nossa realidade social. O que faz esse abismo infinitamente maior, mais bárbaro. Ao mesmo tempo escancara a elitização do jogo. E a constatação é óbvia: o futebol deixará de ser popular.
É questão de tempo que deixe de ser parte da cultura de massa. Não sou um expert em temas sociológicos mas acho que cabe o termo. Na verdade os homens que cuidam do futebol nunca estiveram nem aí pra essa veia popular. A exploraram de todas as formas. E não se importam que ela se perca desde que o faturamento continue subindo. E foi disso que se ocuparam ao criar o vampiresco sistema de sócio torcedor, ou ao fazer dos estádios Arenas pra poucos. Para eles se um dia a média de público despencar tanto faz, desde que o preço do ingresso seja uma fortuna e uns poucos abonados se encarreguem de não deixar o faturamento cair. Só irão mudar se um dia perceberem que deixando de ser popular o futebol talvez veja minada sua capacidade de faturar. Aí pode ser tarde demais.
Não duvido que o futebol se sustente sendo quase um luxo. Há um sem fim de modalidades endinheiradas para corroborar essa possibilidade. Vendo quanto passou a custar um ingresso, uma camisa de um time, sou levado a crer que um dia se amará o futebol como se ama carros importados, bolsas de grife que custam os olhos da cara. Sei que é chato ficar falando do tempo em que o Morumbi abrigava mais de cem mil torcedores nas tardes de domingo. Da poesia rude da velha geral do Maracanã. Até gente com saudade do tobogã do Pacaembu temos visto. Justo do tobogã sempre tão mal falado por ter tomado o espaço da velha concha acústica. Mas não se trata disso. Se trata de tentar entender qual será o preço de tudo que tem sido feito em nome do futebol.
Do ponto de vista histórico, já disse outras vezes, o futebol é até novo. E sou capaz de dizer que o apogeu dele se deu por volta do fim dos anos setenta, início dos oitenta. Pouco depois do nosso jeito de tratar a bola ter definitivamente encantado o mundo. E não me importa que daqui uns anos estas minhas palavras sejam lidas como foram lidas as de Lima Barreto que no século passado profetizou que o futebol era moda que não pegaria. Até acho que ele pode viver historicamente outro grande momento. Só sei que não será com essa receita, roubando dele o que sempre teve de mais belo: a veia popular, apaixonada. Enfim, é isso, toda vez que vejo um ingresso custando os olhos da cara me pergunto: o que é que o futebol vai virar?
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