sexta-feira, 4 de junho de 2021

Em meio à dor da América



Não sei se o Caro leitor faz parte do grupo de indignados com essa questão envolvendo a Copa América. De minha parte digo a vocês, como já comentei com amigos, que logo que a Argentina disse não, depois de a Colômbia o ter feito também, considerei uma questão de tempo essa batata quente vir parar no nosso colo.  E de imediato me lembrei do sorteio que apontou o Qatar como sede da Copa de 2022. Nos dois casos bastaria conhecer um pouco das manobras do futebol desenhadas longe dos gramados para sacar que o desfecho tanto em um caso, quanto no outro, era óbvio.  

Pelo que foi noticiado bastou um telefonema do mandatário da CBF para o Palácio do Planalto para decidir a questão.  Num primeiro momento os veículos de comunicação, todos, incluindo grandes jornais do exterior,  deram a notícia.  A Conmebol foi logo fazendo uma publicação oficial agradecendo nominalmente ao presidente brasileiro.  Mas eis que horas depois o Ministro da Casa Civil se pronunciou. Disse que o tema estava sendo analisado e se apressou em falar das condições exigidas.  Condições que se analisadas com rigor eram visivelmente protocolares.  Exceção feita, talvez, à proibição de público nos estádios. A ver. 

Enfim, a confirmação não tardou. Um dos artigos que li a respeito jogava luz sobre a submissão dos governos ao futebol.  Mas reside aí um aspecto interessante, pra não dizer lamentável, o tamanho da submissão do nosso governo. Pois quem costuma acompanhar os movimentos envolvendo esses dois atores sabe bem que a ligação entre futebol e governo na Argentina sempre foi umbilical, a ponto de em certo momento da história o governo ter comprado os direitos do Campeonato Argentino. Ainda assim, diante da pandemia e de todos os seus desdobramentos, parece ter tido alguma sensibilidade. Bom senso mesmo. 

Que o momento exige esse tipo de conduta não resta dúvida.  No fundo é o dinheiro ditando , como sempre, as atitudes.  O torneio em questão representa o segundo maior faturamento da Confederação de Futebol Sul Americana. Como foi ele, o dinheiro, que determinou o momento em que o futebol brasileiro voltou a ser jogado, que determinou a intensidade da insistência para que o Campeonato Paulista não ficasse pelo caminho meses atrás, quando os números da pandemia apavoravam aos menos aqueles que não a negam. 

Foi o dinheiro e essa sempre suspeita tabelinha entre cartolas e governo.  A Copa América, não se enganem, mais do que um torneio virou um signo, um símbolo. E é disso que se trata. Os que a negarem serão imediatamente apontados como alinhados com isso e aquilo. Os que a abraçarem, idem. Mas seja como for será responsabilidade de quem disse sim, de quem ao aceitá-la seguiu negando que a hora pede outros esforços. E não me venham com essa canalhice de fazer o velho e cara de pau minuto de silêncio às vítimas. 

Fico me perguntando, testemunha de tantas perdas, de tantas histórias tristes, em que mundo vivem certos cidadãos que passeiam por aí sem máscaras, muitos com ar desafiador até.  A vida é de cada um, que façam com ela o que bem entender. O que jamais vou aceitar é o descaso com o próximo. Por certo veremos ainda quedas de braço, descontentes recorrendo ao judiciário. Que os indignados se revelem, é um direito. E como se não bastasse a tristeza por essa falta de humanismo,  temos de digerir  também a constatação de que o futebol, esse grande catalisador do nosso povo, vai aos poucos sendo maculado por homens que fizeram dele um modo de enriquecer. E, no fundo, se importam é com isso.      

 

Um comentário:

Roberta Faglioni disse...

Mais um triste capítulo neste já tão nefasto cenário.