Tô lá eu, de olho no jogo. Não era nem Copa América, nem Eurocopa. Vasco e Boavista disputavam uma vaga nas oitavas da Copa do Brasil. Partida de volta. Dois times do Rio. Aquela proximidade que só faz aumentar a rivalidade. Por certo o adversário sabia bem o que tem vivido o Vasco, fatalmente achava que poderia tirar proveito disso e quem sabe triunfar sobre toda a glória que o time cruzmaltino representa apesar de tudo. O Boavista estava na frente, ia devolvendo o um a zero que tinha levado em casa.
Bola na área. Chute da direita. O atacante vascaíno vai nela, que depois de tocada resvala no braço dele. O juiz dá o gol. O bandeirinha fica na miúda. A revolta do time que acaba de levar o empate é grande. Pra quem acompanha a transmissão o lance é claro, não fosse o comentarista de arbitragem entrar dizendo que o torneio usa a regra antiga, que ela já foi mudada e provavelmente na próxima edição não restará dúvida de que o gol seria anulado. Uma certeza discutível pode ter pensado alguém que estivesse acompanhando tudo aquilo.
A bola não volta a rolar, apesar de já ter sido colocada no meio de campo. Eis que, de repente, a coisa vai mudando. Todo mundo no gramado começa dar a impressão de que não há o que contestar, foi mão e pronto. Na beira do gramado o bandeirinha, que já tinha tido tempo de conversar com o árbitro e lhe passar suas impressões, passa um pito no treinador do Boavista dizendo que ele está com o celular e que isso é proibido. Que se está com o aparelho o mesmo deveria estar no modo avião. Santa ingenuidade. Fica claro que o técnico a essa altura já sabe como o lance se deu. Que a bola bateu mesmo na mão do atacante adversário.
A imagem corta pro juiz lá embaixo. A mão direita dele pressiona o ouvido, desenha aquele gesto que já está consagrado no futebol, o do árbitro que espera instruções além campo, lá da cabine onde fica o árbitro de vídeo. Tudo estaria perfeito se a Copa do Brasil naquele jogo tivesse à disposição tal recurso. Mas sabemos todos, não tinha!!! Terá depois, em outra fase. Surge a voz do narrador que precisa versar sobre o que todos estão vendo. Justifica a cena dizendo que o árbitro está conversando com os assistentes espalhados ali pelo gramado. O árbitro ouve um segundo mais o que está sendo dito e, em seguida, faz soar o apito e aponta pra área onde tudo se deu. Onde aquela pequena novela tinha começado. O gol está anulado.
Tinham se passado eternos seis minutos desde o momento em que a bola tinha ido dormir na rede. Pra quem assistia a tudo restou uma certeza: pra resolver a pendenga houve ajuda externa. Mas isso é contra a regra todos sabem. E agora? E daí? Mero detalhe. Eis que no dia seguinte me chega pelo correio uma carta, de um remetente que não conheço. Dentro dela a cópia de uma folha, que havia sido registrada em cartório, contendo uma lista de sugestões para melhorar o futebol. Nove para ser exato. Entre elas abolir o carrinho. Deu carrinho, por trás, pelo lado, mesmo visando a bola, é cartão. Sei que é severo mas vai de encontro ao que tenho defendido, a capacidade que a arbitragem tem - ou poderia ter - para refinar o padrão do jogo. Outra, não parar a partida para a troca de jogadores, apenas no caso do goleiro.
E onde essas duas coisas se encontram? Bem, o fato descrito se deu no meio de um desses jogos disputados à tarde, a toque de caixa, como tem sido. Pouca gente viu, o gol anulado não foi crucial porque o Vasco marcou outro e ficou com a vaga. Mas tanto a carta quanto a bagunça vista em São Januário mostram bem que o futebol anda precisando ser mais bem tratado. Eis, então, que surge uma Liga dando pinta de que seria capaz de dar conta do recado. Será? É o tipo de coisa que só acredito vendo. Até porque não resta dúvida de que a CBF fará tudo o que pode puder pra que a ideia não vá adiante.
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