O prezado leitor tem boa
memória. É provável que concorde comigo. Há pouco mais de um ano falar em
seleção brasileira era algo que testava nossa paciência. Não bastasse a ausência
de maus resultados pesavam sobre a mais coroada seleção do planeta as
evidências de um gigantesco esquema alimentado por propinas, um quase rodízio
nos nomes chamados para comandar o time e certa descrença com relação ao talento
dos nossos atletas. Diante desse quadro desolador Tite era, de longe, o único
profissional capaz de trazer alguma esperança. Para sorte do futebol
brasileiro e, principalmente dos que mandam nele, aceitou a missão.
Era uma
quinta-feira, como hoje, quando Tite debutou nas Eliminatórias tendo diante de
si a possibilidade da glória ou da vergonha. Mais do que o placar - que apontou
três a zero para o Brasil diante do Equador - foram os gols marcados pelo jovem
Gabriel Jesus os sinais mais claros de que poderíamos, sim, dar de cara com
alguma luz. O resto da história todo mundo conhece. Tite acumulou vitória atrás
de vitória. Não tardou a colocar o Brasil na ponta da tabela, nem a fazer dele o
primeiro a garantir vaga na Copa que se aproxima. Até empatar com a Colômbia na
última rodada só venceu nessas Eliminatórias.
Mas ouso dizer que o grande feito
dele até aqui foi ter praticamente anulado o mau humor da torcida e ter provado
por A mais B que em matéria de talento continuamos bem servidos. A trajetória
desenhada por Tite e seus comandados permitirá ao torcedor brasileiro no dia de
hoje acompanhar a penúltima rodada das Eliminatórias Sul-Americanas de uma
posição privilegiada. O circo está pegando fogo. Mesmo em Uruguai e Colômbia,
segundo e terceiro colocados, resvala certa tensão.
O Peru, que vem logo depois,
defenderá uma sequência de três vitórias iniciada honrosamente diante do
vice-líder Uruguai. E será contra a Argentina, que com toda sua tradição, neste
momento, na condição de quinta colocada, iria pra repescagem. Argentina que vem
de um vergonhoso empate contra a lanterna Venezuela em pleno Monumental de
Nuñez. E como de inocente não tem nada levou o jogo de hoje à noite contra o
Peru para La Bombonera. Quem acompanhou a
história recente do futebol argentino, com direito a intervenção na AFA e
tudo, sabe que esse calvário talvez não tenha se dado à toa. E, além disso, por
mais que os treinadores de lá gozem de prestígio maior do que os daqui nenhum
deles até agora foi capaz de fazer o papel de Tite.
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