terça-feira, 31 de outubro de 2017

Carlos Drummond de Andrade, 115 anos


"Confesso que o futebol me aturde, porque não sei chegar até o seu mistério. Entretanto, a criança menos informada o possui. Sua magia opera com igual eficiência sobre eruditos e simples, unifica e separa como as grandes paixões coletivas. Contudo, essa é uma paixão individual mais que todas."


Trecho da crônica "Mistérios de Bola", que faz parte do livro 'Quando é dia de Futebol'. Obra que reúne textos do poeta sobre o jogo. Fica aqui a  dica.  

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Más unidos que nunca




Os jogadores uruguaios estão dando um exemplo. 

No final de semana não houve futebol no Uruguai. E é interessante notar que a ação também vai contra o Sindicato que representa a categoria. Nos últimos dias até o ex-Presidente do país, José Mujica, figura das mais raras, esteve envolvido nas conversas para se tentar chegar a um acordo. Tá mais do que na hora de o "futebol" começar a pensar.  

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

O futebol na boca do povo


Todo mundo sabe que onde se fala de futebol pra valer é na feira, na pelada com os amigos, no trabalho, na mesa do bar. O que se vê fora disso é ofício. Só o torcedor é verdadeiramente livre. E foi pensando nisso que lembrei do Jorjão, de quem até já falei aqui. O cara segue lá no almoxarifado, como bom corintiano, torcendo mesmo é pro Brasileirão acabar. Disfarça, mas tá numa contagem regressiva danada! Não é à toa que vira e mexe deixa escapar no meio do papo:

_ Faltam quantas rodadas mesmo?

O Zé Carlos, da manutenção, é da mesma estirpe. Polido, a seu modo, não é desse tipo de corintiano que costuma descer a lenha no Rodriguinho. O alvo da vez. Sempre teve um ar calmo e, gozando de boa vantagem, andava parecendo budista. Mas depois da derrota pro Botafogo não sei, não. O São Paulino Silviano, que também já citei aqui, gosta de consultar os astros. Parece conformado com o inferno astral que o time dele atravessa. E se o conheço bem não deve ter tido das estrelas sinal forte de a coisa pode mudar rápido. De olho no céu defende o seguinte:

_ O ano podia ser do leonino Rodrigo Caio, que é Galo no horóscopo chinês. E este é o ano do galo. Mas Dorival é ariano. E ariano e leonino sempre duelam pra ver quem manda mais. Aí Dorival anula o Rodrigo Caio. Quem tá num ano bom é o Petros, serpente no ano do Galo.

Já o santista, Manoel Viúdes, editor de imagem com bagagem no ramo  de fazer frente a vivência de um Zagallo tá que é só desgosto. Foi capaz, vejam vocês, de quase perdoar o tropeço diante da Ponte, que todo mundo sabe é time encardido. Mas depois do que aconteceu diante do Vitória e do Sport, pintou na redação no outro dia que até o olhar tava diferente. De tão desapontado foi sucinto:

_ O Santos tá melancólico.

Mas aí eu caí na besteira de sugerir que a vitória sobre o Atlético Goianiense trouxe alguma esperança. Pra quê? O homem deixou transparecer sua fúria: 

_ Era só o que me faltava! Empatar com o lanterna na Vila! Mas tá tudo uma bagunça mesmo. Não duvido de mais nada.   

terça-feira, 24 de outubro de 2017

A festa da FIFA...





...vista pelos olhos bem treinados de um jornalista de respeito


Festa da 'nobreza' da FIFA tenta provar que crise acabou

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Futebol, substantivo masculino


O amigo Celso Unzelte deu a dica ontem no Cartão Verde. Sabemos que o título do livro acima é muito apropriado. O tratamento dispensado ao futebol feminino está longe de ser condizente com sua importância, com sua história repleta de superação. Dias atrás vivi essa realidade ao ter uma dificuldade imensa para conseguir as imagens da final do Campeonato Paulista. Tínhamos a intenção de exibir as tais no Jornal da Cultura. Vejam! A final do Campeonato Paulista! Trata-se de uma invisibilidade que dribla até os mais comprometidos com a causa. Prova disso é termos deixado passar ontem, sem o tratamento devido, a notícia da vitória do time feminino do Corinthians/Audax sobre o Cerro Porteño, por três a zero, no Paraguai. Triunfo que valeu a vaga na grande final do torneio. A decisão, aliás, será no sábado, às nove e quinze da noite, contra o Colo Colo, do Chile, em Assunção.  Aos interessados o lançamento do livro será nesta sexta-feira, entre 19h30 e 21h30 na sala de vídeo do Departamento de História, a FFLCH, da USP, dentro da Cidade Universitária, com direito a bate-papo sobre o tema. E escrevendo agora me veio a lembrança de um texto do Tom Zé que também fala da invisibilidade das mulheres, mas no caso a das animadoras de torcida, não exatamente das jogadoras. Mas é algo de tamanha sensibilidade que faço questão de deixar aqui para a apreciação de vocês. Espero que não tarde o dia em que a imprensa passe a ser mais justa com as conquistas e com  o trabalho do nosso futebol feminino.




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As mulheres invisíveis do futebol - Tom Zé




Quando o cumprimento é dado ao lado esquerdo das arquibancadas, rapidamente as moças que agora lhes ficam à frente se acocoram. É a vez de as outras se levantarem. O esquema é rápido, sincronizado. Mais vistoso, impossível. Mas os jogadores não passam recibo: faz de conta que não existe mulher nenhuma nas imediações.  

A televisão, que filma o ritual dos craques, não pode varrê-las da cena; mas, tacitamente, não estão lá. É o apagão do feminino. Às vezes o sol as torra, nos campos diurnos de Campinas ou Rio Preto. Mas agora, que começa a fazer frio, dá vontade de chamar a campanha do agasalho, em socorro das pobres criaturas, vestidas de quase nada no gelo da noite paulista. Rádio, televisão, jogadores, comentaristas, repórteres de campo, ninguém lhes autentica a presença. Não são nem estão. 

Nunca vi jogador, torcedor, gente de imprensa sorrir pra elas, reconhecer-lhes a atuação comemorativa. Não há denotação que as torne – apesar de mulheres, não é, neguinhos? – partícipes da espécie humana. Elas lembram Ulisses apresentando-se a Polifemo: "Meu nome é Ninguém". São párias hindus, intocáveis, hansenianas, portadoras de maleita, erisipela e contágios. Nada indica que possam ter a mínima pretensão à semelhança concedida pela divindade – semelhança cuja primazia, pensando bem, foi concedida a Adão. 

 Agora, as moças começaram a usar uma peruca vermelha sensacional. Mas o estigma não arreda pé. Ninguém as vê, nem com os cabelos em fogo. A televisão dá closes em belas e feras: tá aqui um moço simpático, ali um velho sem dente, um torcedor mordendo o lábio, um japonês tocando samba. O diabo. Mas a individualização do close, essa caridade de um segundo, não as contempla. Se eu tivesse poder, faria uma campanha para convertê-las em gente como você e eu, leitor. No campo, beijaria a mão de cada uma. Ou faria uma canção pra elas. 


quinta-feira, 19 de outubro de 2017

O futebol também é obra do acaso

Foto: Gazeta Press

Uma vitória nem sempre é obra do acaso mas no futebol ele tem papel fundamental, como tem na nossa vida. A diferença é que quando o acaso decreta algo em nosso cotidiano na maior parte das vezes não temos como não aceitar que o ocorrido foi obra dele. Mas quando o papo é futebol a coisa toma outro rumo. A primeira razão é que aceitar o acaso, simplesmente, rouba a razão de parte das reflexões feitas em cima do jogo. Notem que se fala tanto de futebol atualmente que vira e mexe tenho a impressão de que não tardará o dia em que se falará mais do que se jogará futebol. Embora nosso calendário esteja aí à postos pra encarar a briga. 

A segunda razão, essa difícil de ser driblada ou esclarecida, é que há muitas coisas agindo no que se dá entre as quatro linhas. O que faz o argumento do acaso ser facilmente encarado como simplista. Tem mais, o acaso, obra sem assinatura, num primeiro momento sempre é tido como algo menor. Mas se enganam os que acham que ele não pode se revelar genial ou grandioso. Se os que analisam não o exaltam tampouco os derrotados se sentem à vontade com ele. Mesmo notando no acontecido algo de casual jamais farão questão de aceitar o fato de terem sido derrotados por tão incerto adversário. 

E, além disso, sabendo da reputação de que o acaso goza não querem correr o risco ver suas justificativas encaradas como mera desculpa. Mas nunca é tarde pra dizer - e notar - que o acaso não existe apenas de maneira óbvia. Não se revela só em lances sem mistério, como quando a bola bate na canela de um juiz e acaba dentro do gol, como já aconteceu, aliás. E a única que pode, talvez, disputar com o acaso o título de coisa mais ignorada pelos entendidos da crônica esportiva é a dúvida. Só ela desponta nesse cenário com tratamento semelhante ao acaso. Ambas tratadas quase com desprezo, vistas como algo capaz de diminuir seus defensores. 

Mas, queiram os homens ou não, o acaso é parte do jogo e quase sempre não ganha os créditos porque tudo que se passa entre as quatro linhas precisa ser creditado a alguém ou deixar transparecer uma razão. Por outro lado, há coisas que jamais poderiam ser explicadas pelo acaso. Como, por exemplo, o fiasco santista na missão de se aproximar da ponta da tabela ou o Corinthians não sacramentar esse título. Fato é que com esse jeitão de decidido, ou em aberto, o Brasileirão nos reserva clássicos de respeito neste final de semana. Caso de Cruzeiro e Atlético Mineiro, no Mineirão. E São Paulo e Flamengo, que na tarde do domingo estarão frente a frente no Pacaembu. Vedetes de uma rodada que promete durar uma eternidade porque o líder só a fechará na noite de segunda-feira quando for visitar o Botafogo.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Nuzman, funcionário público!


Essa equiparação de Nuzman a funcionários públicos é um detalhe crucial. A declaração abaixo é parte de entrevista concedida ao Redação SporTV, e está publicada em matéria do globoesporte.com. Não é à toa que a CBF, faz tempo, dribla essa questão do dinheiro público. O que não a faz inocente, claro.   

_ ... esse fato faz toda a diferença na medida em que o Leonardo (Gryner) e o Nuzman respondem por corrupção passiva, assim como o ex-governador Sérgio Cabral, justamente em função da equiparação a funcionários públicos. Na qualidade de gestores do COB e do Comitê da Rio 2016, eles receberam verbas públicas federais, firmaram convênios, o COB teve convênios firmados com a União, até mesmo para a apresentação do dossiê de candidatura da Rio 2016, então, por essas razões são ambos equiparados, por disposição legais, a funcionários públicos. - disse o procurador Felipe Bogado

Procurador: equiparação de Nuzman a funcionários públicos "faz toda diferença"


    

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Raí, no centro do Roda Viva !


Hoje, a partir das dez e quinze da noite, na TV Cultura.



quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Nosso esporte é reflexo da política

Getty images

Nós, jornalistas, estamos longe de fazer cara de espanto quando ficamos sabendo que o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro foi parar atrás das grades. E não vai nisso nada de sobrenatural. Basta casar algumas informações para desconfiar de como as coisas se dão. O esporte a política adotam comportamentos semelhantes, por mais que os políticos tratem o esporte com desdém. Ainda que seja pelo esporte que muitos consigam um lugar no legislativo e afins. Todo mundo sabe que os Ministérios que todos querem são outros. E justamente por não ser forte o de Esportes é a última das moedas de troca. 

Essa falta de atenção é mais um sinal da nossa ignorância.Um país grande como o Brasil poderia, até mais do que os pequenos, obter resultados econômicos interessantes se encarasse o esporte como meio de cuidar da educação e da saúde da população. Alto rendimento viria depois. E se a ele dispensasse outros montantes duvido que não apareceriam homens de bem interessados em tê-lo para seus partidos. Tanto na política quanto no esporte os nomes se perpetuam. A cara de pau é a mesma. Os cargos são passados de pai pra filho. Tanto em um  como no outro os donos do poder cansam de dizer que estão ali porque descobriram em si a vocação para servir. 

E o pior é que tanto na política quanto no esporte estamos num deserto de homens. Embora dada a pobreza do nosso quadro político o esporte ainda possa se arvorar de levar ligeira vantagem, graças a nomes como Ana Moser, Raí. Mas é possível notar neles certo receio. E é compreensível que seja assim pois têm um nome e uma carreira limpa a zelar. E a CBF que está na moita - e lá permanece graças a falta de ação das autoridades competentes - é parte integrante desse quadro. Com a diferença de não ter tido um presidente na época capaz de ir até o fim acumulando o posto de presidente do Comitê Organizador, como fez Carlos Nuzman com a Rio 2016. 

Dois anos antes da Copa Ricardo Teixeira saiu de cena. O Acumulo no caso de Nuzman foi apontado pelo Tribunal de Contas da União como conflito de interesses, já que havia um contrato de cento e setenta milhões entre as entidades comandadas pelo mesmo dirigente. E no ano passado o COB recebeu da Lei Agnelo/Piva cerca de duzentos milhões de reais. Dinheiro público que certamente ajudou Nuzman a se manter no poder. Na minha opinião o que o Brasil precisa, além de uma faxina retumbante, é encarar o esporte como um meio de educar e cuidar da saúde. O único caminho sério e justo para um país subdesenvolvido como o nosso. Desse modo, acredito, os campeões acabariam aparecendo. 

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

A seleção. Quem diria , hein!?

 O prezado leitor tem boa memória. É provável que concorde comigo. Há pouco mais de um ano falar em seleção brasileira era algo que testava nossa paciência. Não bastasse a ausência de maus resultados pesavam sobre a mais coroada seleção do planeta as evidências de um gigantesco esquema alimentado por propinas, um quase rodízio nos nomes chamados para comandar o time e certa descrença com relação ao talento dos nossos atletas. Diante desse quadro desolador Tite era, de longe, o único profissional capaz de trazer alguma esperança. Para sorte do futebol brasileiro e, principalmente dos que mandam nele, aceitou a missão. 

Era uma quinta-feira, como hoje, quando Tite debutou nas Eliminatórias tendo diante de si a possibilidade da glória ou da vergonha. Mais do que o placar - que apontou três a zero para o Brasil diante do Equador - foram os gols marcados pelo jovem Gabriel Jesus os sinais mais claros de que poderíamos, sim, dar de cara com alguma luz. O resto da história todo mundo conhece. Tite acumulou vitória atrás de vitória. Não tardou a colocar o Brasil na ponta da tabela, nem a fazer dele o primeiro a garantir vaga na Copa que se aproxima. Até empatar com a Colômbia na última rodada só venceu nessas Eliminatórias. 

Mas ouso dizer que o grande feito dele até aqui foi ter praticamente anulado o mau humor da torcida e ter provado por A mais B que em matéria de talento continuamos bem servidos. A trajetória desenhada por Tite e seus comandados permitirá ao torcedor brasileiro no dia de hoje acompanhar a penúltima rodada das Eliminatórias Sul-Americanas de uma posição privilegiada. O circo está pegando fogo. Mesmo em Uruguai e Colômbia, segundo e terceiro colocados, resvala certa tensão. 

O Peru, que vem logo depois, defenderá uma sequência de três vitórias iniciada honrosamente diante do vice-líder Uruguai. E será contra a Argentina, que com toda sua tradição, neste momento, na condição de quinta colocada, iria pra repescagem. Argentina que vem de um vergonhoso empate contra a lanterna Venezuela em pleno Monumental de Nuñez. E como de inocente não tem nada levou o jogo de hoje à noite contra o Peru para La Bombonera. Quem acompanhou a história recente do futebol argentino, com direito a intervenção na AFA e tudo, sabe que esse calvário talvez não tenha se dado à toa. E, além disso, por mais que os treinadores de lá gozem de prestígio maior do que os daqui nenhum deles até agora foi capaz de fazer o papel de Tite.