O Brasil como se sabe não é nação de
fácil interpretação. Chego a ter compaixão dos ditos brasilianistas. Gente que
formada em outras plagas baixa por aqui cheia de boas intenções e entrega. E
acredito não cultivar esse sentimento sem razão. Ver o que se passa nestes
trópicos e interpretar o que aqui se dá é uma coisa. Compreender, outra, bem
mais complexa. Isso sem contar a mutação. Por certo o Brasil de hoje não é o
Brasil de outros tempos. Tá aí o futebol pra comprovar. E se dúvida havia nesse
sentido depois dos jogos das quartas de final do Campeonato Paulista devem ter
caído por terra. O jogo de bola que encantava o torcedor agora o assombra. No
pior dos sentidos. Ou não foram assombrosas as partidas que se deram? Talvez
seja o caso de inocentar apenas a peleja entre Palmeiras e Novorizontino, desde
que carreguemos conosco uma dose de complacência.
Gostaria muito que este
amargor interpretativo fosse só um sintoma do saudosismo a que os anos nos
condenam. O velho papo de que antigamente tudo era melhor. Mas não vem daí o meu
desespero. Faz tempo aprendi com Tio Nelson que o futebol é só a coisa mais
importante entre as coisas menos importantes. O que me aflige é a evidência de
que o futebol segue sendo puro reflexo desse nosso catadão aqui, que ultrapassa
os duzentos milhões. Nessa ladeira tem ido tudo o que nos é caro e
necessário. Ou alguém aí da arquibancada seria capaz de levantar e gritar que
não tem essa, que estou misturando as coisas, que socialmente estamos muito
melhor do que futebolisticamente? Nada!
Não há setor em que possamos
dizer "jogamos por música". Nossa justiça, por exemplo, joga sem velocidade
alguma. E nesse marasmo tome contra ataque. Dias atrás, enfim, o Superior
Tribunal de Justiça validou a troca de informações entre o Ministério Público
Federal e o Departamento de Justiça dos EUA no caso FIFA. Isso um ano e meio
depois da prisão dos dirigentes na Suíça. Não comemorem! Alguém duvida que a
essa hora a defesa já tenha na cabeça uma tática armada pra dar mais uma travada
no jogo?
Evidências de que as coisas aqui têm o padrão do futebol,
infelizmente, não nos faltam. Nossa saúde, nossa (in)segurança, nossa política,
que em matéria de involução tem deixado pra trás qualquer adversário. Nossos
clubes, que sugados de seu poder nada falam ou fazem. E aí, inevitável, sempre
me volta incômoda questão. Que paixão funda é essa que mesmo em face de tamanho
desencanto não nos deixa parar de amar? Quem sabe algum brasilianista tenha a
resposta. A verdade é tenho medo de perguntar porque ela pode vir óbvia e
dilacerante: pra mudar... torcer já não basta,
caro brasileiro!
Um comentário:
Que texto!!! Que reflexao!!!
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