Submissão, o último livro de
Michel Houellebecq, já pintou aqui no blog como dica de
leitura. É realmente provocadora a sensação que toma o leitor mais atento ao cenário político-cultural francês
depois de percorrer estas
páginas. Houellebecq faz uma trama ficcional, mas a
situa tão perto temporalmente que acaba criando em nós
uma tensão nascida do fato de nos fazer perceber que toda
aquela realidade imaginada é factível.
É interessante também como o personagem
principal - de início tão refratário aos acontecimentos - vai se
deixando seduzir pela nova realidade que se apresenta. E como se
não bastasse há o fantasma da direita extrema...tão real.
Houellebecq esteve no Brasil dias atrás. Em entrevista para a repórter Úrsula Passos falou sobre a relação que mantém com a mídia e sobre um certo vácuo deixado pelos
políticos. Palavras que dão a impressão de
refletir uma
realidade que parece nossa também. Leia abaixo um pequeno trecho da conversa.
***
Por que a crítica estrangeira lhe tece mais elogios do que a francesa?
Eu reconheço que o ódio entre mim e a quase totalidade da mídia francesa é tão forte que se tornou inexplicável para mim. É um mistério. Bem, não que seja mesmo um mistério, mas quando discutimos há, por vezes, um tal nível de violência que nada se entende. Eu não sei como chegamos a isso, mas nos detestamos, eu e a mídia francesa. De verdade. Sinceramente, isso é muito forte. Talvez haja erros dos dois lados.
Mas do seu lado, por que esse ódio?
Eu já insultei muitos jornalistas e jornais –e fui muito insultado por eles também. Isso foi crescendo e já dura cerca de 20 anos.
E no entanto o senhor continua muito lido na França.
Essa é uma das vantagens de ser insultado pela imprensa, porque a população odeia a imprensa, então as pessoas estão do meu lado. Há uma relação muito ruim entre a mídia e a população.
E por que os franceses odeiam tanto a mídia?
Porque a mídia fala sempre a mesma coisa, é irritante, é tudo formatado, é pura propaganda centrista. Mas os franceses detestam também os políticos, detestam os juízes, detestam, na verdade, o poder. Fala-se muito da Frente Nacional, mas a progressão da Frente Nacional ainda é menor que a das abstenções nas eleições. A primeira escolha é a de se abster.
Os franceses participam cada vez menos da vida política...
Sim, eu não sei desde quando, mas nos últimos tempos se tornou uma coisa impressionante. Os franceses não se sentem representados, não sentem que algum partido os represente. O problema não é a corrupção –claro, quando há um escândalo isso não ajuda–, mas no geral os políticos franceses são menos corruptos do que em muitos outros países. A causa são mesmo os atores políticos e o que eles propõem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário