Nunca acreditei na lisura da FIFA. E a condição imposta por ela de que as
Confederações mundo afora não recebam qualquer interferência dos governos sempre
me soou discutível. Mas devo dizer a vocês que o futebol argentino me convenceu
do contrário. De outro modo seria impossível o mínimo de ordem. Não sei se vocês
têm acompanhado o que se passa no país vizinho. A morte do cartola-mor, Júlio
Grondona, abriu um vácuo no poder. E o que se passa lá é um aviso do que
nos aguarda se não evitarmos de modo eficaz essa mistura de política e futebol.
Na Argentina atual é difícil saber onde começa uma coisa e termina a outra. A
briga pelo comando da Associação Argentina de Futebol virou uma guerra. E vejam
a biografia dos envolvidos. De olho no posto está Hugo Moyano, o mais
poderoso sindicalista do país. Moyano, líder dos caminhoneiros, é presidente do
Independiente, um dos maiores clubes da Argentina e, dizem, até abriria mão do
cargo se conseguisse colocar lá o genro, Claudio Chiqui Tapia, cartola do
Barracas Central, um time mais modesto. Outro protagonista é, simplesmente, o
maior showman do país, astro de televisão, milionário e... vice-presidente do San
Lorenzo, Marcelo Tinelli. Só aí já teríamos uma bela queda de braço.
O que vocês
devem ter ouvido é que a Argentina correu o risco de ficar fora da Copa América
e o Boca, da Libertadores. Isso porque nessa batalha há ainda o governo,
encarnado na figura de Mauricio Macri. Um homem rico que se afinou com os pobres
graças aos doze anos que presidiu o Boca Juniors. E uma das bandeiras que fizeram Macri chegar à presidência foi a de se comprometer a manter o futebol gratuito
até 2019. É! O futebol argentino foi nacionalizado em 2009 e custa 138 milhões
de dólares por ano.
A intervenção do governo estaria em curso por causa da
evidente falência da AFA. O governo nega. Mas fato é que no último dia 31 a
entidade recebeu a visita de um órgão do Ministério da Justiça. Duas pessoas com
poder de decisão foram nomeadas para a associação e as eleições, que seriam em
30 de junho, foram suspensas. E não é tudo. No último mês de dezembro a AFA já
tinha tentado eleger um presidente mas a votação acabou em papelão. A apuração
revelou um número maior de votos do que de eleitores.
Interessante notar, no entanto, que mesmo vivendo essa
situação bizarra a seleção argentina vai bem. É a atual vice-campeã do mundo
e ao golear os Estados Unidos na semifinal da Copa América reforçou a pinta de
favorita ao título da Copa América. Título que faria justiça à trajetória do genial Lionel Messi, que acaba de se tornar o maior artilheiro da história da seleção argentina. E diante de tudo isso é impossível não se perguntar:
poderia o futebol da nossa seleção ser outro, apesar da CBF ?
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