Desde que me conheço por gente as regras do futebol dão
o que falar. E se a memória não me trai também faz tempo que não ouço alguém
dizer que o sucesso do futebol se deve muito ao fato de ser um esporte de poucas
regras. E regras preservadas ao longo da história. Reconheço a virtude. E se
escrevo sobre é por acreditar que as intervenções feitas nos últimos tempos
tiveram algo de desastroso, em especial, por terem atentado contra essa virtude.
Vejam a recente orientação sobre os pênaltis causados por bola na
mão. De repente ficou estabelecido que se a bola
bate na mão é pênalti e ponto. Imaginaram que num passe de mágica acabariam com
o foi-não-foi que costuma manchar reputações. Ora, se há um pecado em matéria de
futebol é ignorar a complexidade do jogo, o que a orientação descaradamente
fez.
Mas o que pretendo mostrar é como a decisão teve um efeito perverso.
Acredito que vocês, como eu, desde cedo aprenderam a interpretar o que era e o
que não era pênalti. Levar em conta a intenção. Claro que não era fácil, nunca
foi. Mas a orientação passou a duelar com essa lógica. Chegamos ao seguinte
ponto. Em uma partida depois de um lance desses o narrador perguntou ao
comentarista como ele interpretava o lance que tinha acabado de acontecer. E ele
não teve dúvida. Afirmou que pela orientação dada aos árbitros deveria ter sido
marcada a infração, mas que ele, comentarista, não daria. Era ou não era mais
simples ter preservado o papel da interpretação
que o futebol sempre exigiu?
Bom, foi-se o tempo
em que as regras do futebol eram preservadas. Há exatamente um mês o
International Board aprovou, e a CBF irá adotar, um pacote de mudanças
considerado o mais abrangente dos 130 anos de existência do órgão. O livro de
regras foi reorganizado e atualizado, segundo eles, para facilitar a leitura e o
entendimento de árbitros e comunidade em geral. A partir de então qualquer toque
no rosto - mesmo aqueles com jeito de carinho - redundaram em expulsão.
E o
principal! Aquele lance em direção ao gol, sabe? Aquele que todo mundo exige
vermelho? Esse passará a merecer o vermelho só se a falta for intencional,
ignorando a bola. A intenção é ótima, claro. Mas interessante aí é notar que
dessa vez voltaram a acreditar na interpretação do lance. Ou alguém aí é capaz
de crer que ela se fará necessária? Faltas cometidas além da
linha de fundo, depois do limite do campo, também serão marcadas. E há outras
mudanças. Mas o que me assombra é a certeza de que se fosse debater a eficácia
delas com algum entendido a certa altura iria ouvir que estou interpretando a
coisa de modo errado
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