Vocês sabem muito bem que se há uma coisa que não falta nesses
tempos que correm são motivos pra nos indignar. Desconfio até que já estamos em
um estágio perigoso demais no qual o nível de indignação se tornou tão brutal
que tem nos levado a uma certa letargia diante dos fatos, por mais absurdos e
horripilantes que sejam. Mas a aprovação pelo TRE-SP do Partido
Nacional Corintiano além de me indignar fez crescer em mim uma outra sensação: a
de que perdemos todos os parâmetros.
Diante das
primeiras recusas nesse sentido quis acreditar que por trás de tudo poderia
haver o bom senso. Aquele tipo de ingenuidade que mais cedo ou mais tarde acaba
atropelada pela realidade. Sei que a nova sigla cumpriu os requisitos exigidos,
apresentou os documentos, obteve o apoio do número exigido de eleitores. E já
imagino que alguns usarão a própria indignação para dizer que se tudo está dentro da lei quem sou eu pra questionar
um direito. Ocorre que no meu humilde ponto de vista reside aí um dos motivos
que têm levado nosso país ao buraco.
Custo a imaginar que nosso
país necessite mais partidos políticos do que o número absurdo que já
tem. Imagino que será o primeiro passo para as bandeiras do futebol invadirem a
política, como já invadiram o carnaval. Os dois casos abrem a porta para o
recebimento de dinheiro público. E como bem sei do ânimo do mundo estou ciente
de que o dito me fará correr o perigo de que alguns o tomem como algo contra os
corintianos. O que essa minha indignação está longe de ser.As leis não deveriam ser o limite de tudo. E imagino que em muitos
casos, quando interessa, elas não sejam. Andamos carentes é de bom-senso, de
autoridades com atitude. Boas atitudes. Aberto esse caminho imagino que fica
estabelecido, a partir de então, a sugestão para que os que se irmanam sob
alguma bandeira ou condição fundem um partido na ilusão de que estariam por ele
melhor representados.
Quem sabe algum iluminado
não tenha dia desses a nobre ideia de fundar o partido dos miseráveis, dos
desempregados, dos larapiados, ou sei lá mais o quê. Por certo seriam partidos
que não teriam dificuldade nenhuma para angariar o ínfimo 0,1% dos votos válidos
para a Câmara dos Deputados, como a lei exige. E feito isso estariam todos
legitimados. Mas sem reforma política, com esse nível político vergonhoso que aí
está não tardará o dia em que serão levados a admitir que tudo não passou de
ilusão. Que só alguns poucos se deram bem. E que eles, os eleitores, continuaram
no mesmo papel. Mas sempre será mais fácil conquistar a simpatia de alguém que
torce para o mesmo time que a gente. E o Brasil? Bom, o Brasil que se dane.
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