Os jogadores de talento discutível que há tempos andam
se dando bem na cruel triagem imposta àqueles que se entregam ao sonho de jogar
bola têm contribuído deveras para o empobrecimento do futebol. Mas vendo no
último domingo a partida entre Audax e São Paulo dei de cara com o que precisava
pra afirmar categoricamente que, nesse sentido, a falta de audácia tem sido
ainda mais corrosiva. E se digo audácia falo da tendência que um indivíduo pode
cultivar de empreender ações difíceis, dando uma banana para os perigos que essa
escolha representa. Bastariam alguns erros para que o toque de bola do Audax
virasse motivo de piada. Estamos todos cansados de saber que a ausência de
resultado é tão ou mais cruel do que os critérios que têm selecionado nossos
jogadores e técnicos.
Mas não é de hoje que o treinador Fernando Diniz se mostra
disposto a driblar o lugar comum. Tem craques pra fazer isso? Definitivamente,
não. Os que viram o jogo como eu devem ter se pegado em dado momento segurando a
respiração ao ver o goleiro na pequena área se negando a meter o pé na bola e
aceitando o desafio de tirar o adversário do lance fazendo uso da ginga. Até o
comentário do narrador no segundo seguinte deixava entrever um riso
nervoso. Olha, digo a vocês que mesmo se vier a eliminação no jogo com o
Corinthians a obra está feita. Basta a coragem de ter negado o lugar comum, esse
feijão com arroz que tem mexido com a nossa paciência nas tardes de domingo. Mas
têm alguma outra coisa ali. Algo que transcende a visão tática.
E a prova disso
não reside no fato de que o Audax foi o único time capaz de neste momento figurar ao
lado dos grandes. Reside na constatação de que diante do São Paulo o Audax foi
mais confiante. Ou não é necessário uma imensa confiança para não meter o pé na
bola quando o adversário chega bufando pra te marcar perto da linha da grande
área? Tem muito medalhão por aí que nessa hora não ia nem lembrar do que andou
falando o professô.
Atento às questões do homem, formado em psicologia, Fernando
Diniz dá a impressão de ter convencido totalmente seus jogadores de que o
caminho apontado por ele vale o risco. O Audax pode não chegar à decisão do
título. Pode sofrer todas as penas, ser eliminado, futuramente rebaixado até.
Mas está claro que Diniz foi capaz de dar uma identidade ao time que dirige. E
tem muito treinador consagrado aí, na beirada do campo, que até hoje não foi
capaz de montar um time cujo jeito de jogar pudesse ser tido como sua
assinatura. Talvez fosse o caso de se criar nos torneios de futebol um prêmio
por inovação. E se você achar que eu tô exagerando, tudo bem, podemos premiar o Audax só pela audácia.
Foto: Rubens Chiri / sãopaulofc.net
Foto: Rubens Chiri / sãopaulofc.net
2 comentários:
Belíssima avaliação, Vladir. Também sou jornalista e admiro teus escritos. Por obséquio, gastaria de saber se tem algum email ou fone para que eu possa entrar em contato com o amigo? aguardo resposta. Abraço!
Podemos falar pelo: vladirlemos@hotmail.com
Abs
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