sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Não sou exatamente um saudosista



Dia desses, quando um papo sobre futebol na redação já dava sinais de cansaço dada a sonolência que costuma abater os interessados no jogo de bola todo começo de temporada, alguém tentou reanimar a conversa lembrando que outro dia havia chegado até nós um e.mail repleto de indignação. O autor da mensagem dizia  não aguentar mais o nosso discurso sempre sugerindo que futebol bom mesmo era o que se jogava antigamente. Olha, adianto-lhes que a discreta provocação não deu grande sobrevida ao papo mas ficou martelando na minha cabeça. E, entre marteladas e reflexões, fui obrigado a reconhecer que se o descontente autor da peça não tinha razão, ao menos, havia sugerido uma grande questão. 

Se dissesse que tenho pelo futebol de hoje a mesma reverência que tenho pelo praticado no passado estaria mentindo. Como devo dizer que gosto infinitamente mais da música do passado do que a atual. E isso  me leva a crer que há claramente em tudo uma dimensão que só o tempo traz. O que torna, portanto, inútil tentar alcançar a exata dimensão que terá no futuro, à luz da história, o que vivemos nos dias atuais. O que sou capaz de afirmar é que a maneira como trataram o futebol nos últimos tempos, sua evolução (ou seria involução?), e o modo como ele foi se moldando no cotidiano de quem se interessa por ele, roubou de nós certa inocência. O futebol não soa mais tão lúdico. Deixou de ter aquele ar de uma brincadeira que os homens carregavam consigo mesmo passada a infância e a adolescência. O futebol ganhou certa urgência. Virou coisa séria demais.

Mas o fato é que semeou entre nosso povo uma trajetória encantadora. Trajetória tão bela que hoje em dia sou capaz de sentir saudade dos jogadores que eu vi em campo e até dos que eu não vi. E como gostaria de ter visto um Zizinho com a bola nos pés com meus próprios olhos. O autor do e.mail não deixa de ter lá sua razão, já que essa resistência pode ser a prova do quanto somos refratários à evolução das coisas. Não! Não deixa de ser verdadeira essa má vontade com o futebol atual. Uma coisa eu sei. O futebol do passado fez entrar para a história um sem fim de homens, que foram comprovadamente capazes de representar o apuro técnico, que encantaram o mundo. E sou quase incapaz de enxergar nos craques de hoje essa relevância. 

A história certamente me punirá se isso for, como suspeito, uma incapacidade minha de acompanhar o andamento do mundo. Por certo lá na frente teremos saudade da ousadia e da juventude de um Neymar, da paixão clubística e do jeito simples de um goleiro como Marcos, ex-Palmeiras. Como já andamos cheios de saudade de alguém como Romário. O jogador, não o político, por favor ! E de quem mais ? Olha, se o futebol de hoje for , como pensam alguns, tão bom quanto o do passado a história se encarregará de redimi-lo. Enquanto o tempo não faz esse serviço sigo seduzido pelo das antigas e ponto!   

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