Dia desses, quando um papo sobre futebol na redação já dava sinais
de cansaço dada a sonolência que costuma abater os interessados no jogo de
bola todo começo de temporada, alguém tentou reanimar a conversa lembrando que outro dia havia chegado até nós um e.mail
repleto de indignação. O autor da mensagem dizia não aguentar mais o nosso
discurso sempre sugerindo que futebol bom mesmo era o que se jogava antigamente.
Olha, adianto-lhes que a discreta provocação não deu grande sobrevida ao papo
mas ficou martelando na minha cabeça. E, entre marteladas e reflexões, fui
obrigado a reconhecer que se o descontente autor da peça não tinha razão, ao
menos, havia sugerido uma grande questão.
Se dissesse que tenho pelo futebol de
hoje a mesma reverência que tenho pelo praticado no passado estaria
mentindo. Como devo dizer que gosto infinitamente mais da música do passado do
que a atual. E isso me leva a crer que há claramente em tudo uma dimensão que
só o tempo traz. O que torna, portanto, inútil tentar alcançar a exata dimensão
que terá no futuro, à luz da história, o que vivemos nos dias atuais. O que sou
capaz de afirmar é que a maneira como trataram o futebol nos últimos tempos, sua
evolução (ou seria involução?), e o modo como ele foi se moldando no cotidiano
de quem se interessa por ele, roubou de nós certa inocência. O futebol não soa
mais tão lúdico. Deixou de ter aquele ar de uma brincadeira que os homens
carregavam consigo mesmo passada a infância e a adolescência. O futebol ganhou
certa urgência. Virou coisa séria demais.
Mas o fato é que semeou entre nosso
povo uma trajetória encantadora. Trajetória tão bela que hoje em dia sou capaz
de sentir saudade dos jogadores que eu vi em campo e até dos que eu não vi. E
como gostaria de ter visto um Zizinho com a bola nos pés com meus próprios
olhos. O autor do e.mail não deixa de ter lá sua razão, já que essa resistência
pode ser a prova do quanto somos refratários à evolução das coisas. Não! Não deixa
de ser verdadeira essa má vontade com o futebol atual. Uma coisa eu sei. O
futebol do passado fez entrar para a história um sem fim de homens, que foram
comprovadamente capazes de representar o apuro técnico, que encantaram o mundo. E sou
quase incapaz de enxergar nos craques de hoje essa relevância.
A história
certamente me punirá se isso for, como suspeito, uma incapacidade minha de
acompanhar o andamento do mundo. Por certo lá na frente teremos saudade da
ousadia e da juventude de um Neymar, da paixão clubística e do jeito simples de
um goleiro como Marcos, ex-Palmeiras. Como já andamos cheios de saudade de
alguém como Romário. O jogador, não o político, por favor ! E de quem mais ? Olha,
se o futebol de hoje for , como pensam alguns, tão bom quanto o do passado a
história se encarregará de redimi-lo. Enquanto o tempo não faz esse serviço sigo
seduzido pelo das antigas e ponto!
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