Faz tempo que nos acostumamos com o poderio chinês. O "made in china" virou uma espécie de mantra que entoamos - ainda que silenciosamente - quase toda vez que vasculhamos a origem dos produtos que compramos. Mas convenhamos, quando esse poderio invade o gramado e dissolve um dos times mais promissores do futebol brasileiro a coisa muda de figura. Ver nossos melhores jogadores serem seduzidos por cifras e moedas mais poderosas que as nossas é uma coisa, e nada tem de novo, mas ver um campeão brasileiro com louvor ser arrematado como foi o Corinthians nos jogou na cara o quanto somos reféns da força da grana, o quanto estamos a fadados a ficar apenas com o que não interessou aos ricos.
E ainda que também não seja novidade jogadores tomarem o rumo da China tá na cara que alguma coisa aconteceu. E isso me fez lembrar muito de algo que ouvi no meio do ano passado de um profissional íntimo do futebol brasileiro. Disse ele que por trás desse apetite todo estava a grande paixão do chefe do governo chinês pelo futebol. Segundo esse relato os grandes empresários e donos dos times chineses, sabedores dessa paixão, têm a certeza de que ao montar um bom time estão, ao mesmo tempo, adulando o homem forte do governo que sonha ver a China se transformar também em uma potência do futebol mundial.
A estratégia pelo que temos visto vai bem. A China não só conseguiu transcender os cadernos de economia e invadir os de esportes, como já está na boca do povo, nos papos de botequim. Trata-se, ou não, de outra dimensão do poderio chinês? E na esteira dos acontecimentos vamos desvendando a China. Leandro Netto, atacante, por lá chamado até de "Imperador" foi avisando aos interessados que não sonhem em encontrar em gramados chineses um time capaz de lhe devolver a bola rendondinha, a menos que o contrato seja com o nobre Guanghzou Evergrande.
Rafael Marques, atacante do Palmeiras, disse com todas as letras que quando esteve na China em 2013 viu treinador agredir jogador no vestiário. É, os costumes são sempre um desafio. Emerson Leão, ex-técnico, me disse certa vez que quando esteve no Japão um dos maiores desafios que enfrentou foi fazer um jogador mais novo aceitar o drible sobre alguém mais velho como coisa do jogo. O respeito aos mais velhos, tão arraigado naquela cultura, na hora "h" tirava dos mais novos o ímpeto do drible. Vejam só.
Mas na esteira dos acontecimentos também conhecemos melhor o meia santista Lucas Lima que, em nome do futuro com o qual sonhou um dia, decidiu dizer não a um clube chinês disposto a lhe pagar mais de quatro milhões de reais por mês de salário. Não, não devemos agradecer a China, como sugeriu o corintiano Andrés Sanchez. Os chineses só estão no mercado... aproveitando as oportunidades oferecidas por um futebol mal tratado e uma moeda combalida.
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