Vou fazer de conta que não estou nem aí pro apelo chic do confronto entre Real
Madrid e Barcelona. Também darei um jeito de resistir à tentação de comentar o
ocorrido com o time do Palmeiras diante do Cruzeiro e do Corinthians. Raro caso
em que a conclusão dos castigos faz crer na evolução de um time. Isso pra versar
sobre um detalhe preocupante que o cotidiano tem me revelado, um certo
conservadorismo que pode ser sentido no ar. Me falaram até em gente pedindo a
volta da ditadura. E mais não quis saber porque nisso não quero crer.
Aí me vem
a cúpula da seleção brasileira com essa história de cartilha. Nada de bonés,
brincos e chinelos quando o escrete estiver reunido. Nada de celulares, Ipads,
laptops e outras parafernálias eletrônicas. E fica por ela estipulado também o
traje social na hora de se apresentar à seleção e que na hora da refeição todos
devem permanecer juntos até que o último termine, com o detalhe de que o capitão
será o primeiro a deixar a mesa.
Declarações como a de que isso é para organizar
" uma grande empresa como a CBF " soam prepotentes. Sim, prepotentes, pois em
que grande empresa se permitiria tamanha falta de sintonia entre os que
comandam? Dunga diz que "não é uma cartilha...que não proíbe nada", só faz
sugestões. O coordenador, Gilmar Rinaldi, diz que a cartilha vazou. Ora, tem ou
não tem cartilha?
O mais assustador, no entanto, é ouvir Dunga dizer que o
torcedor brasileiro queria isso. E Gilmar completar dizendo que tal atitude
atende a um clamor que ouviam quando estavam do outro lado. Tudo tão esdrúxulo como voltar a levar a seleção para treinar na Escola de Educação Física do
Exército, no bairro da Urca, como fez seu Marín.
Os jogadores e toda a sua
modernidade me espantam, como me espanta a alienação sugerida por aqueles fones
de ouvido que deixam o sujeito com cara de quem não está nem aí pro mundo. Mas
não quero por isso que a história ande pra trás. De alguma forma seremos sempre
um tanto ultrapassados em alguma coisa e isso não deve nos levar a questionar
liberdades.
A sensação que fica pra mim é a de que Dunga e Gilmar Rinaldi, do
alto dos seus meros cinquenta e poucos anos jamais entenderam - e jamais serão capazes de entender - uma
canção como a que Caetano Veloso cantou nos idos de 1968. Falo da lendária "É
proibido proibir". Se eles estivessem na platéia naquela dia teriam vaiado e
atirado objetos, como fizeram muitos dos que estavam por lá. E a resposta dada
por Caetano aos descontentes naquele dia parece perfeita para os que
comandam hoje nossa seleção. A saber: " Vocês não estão entendendo nada, nada,
absolutamente nada... Vocês estão por fora".
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