Se tem uma coisa que essa fase do Cruzeiro me faz ver é o destempero de
certos comentários. Destempero que deixa transparecer, na minha opinião, uma falta
de respeito com o que o futebol tem de melhor, sua imprevisibilidade. Toda vez
que ouço alguém dizer que a taça de campeão brasileiro já pode ser entregue
ao time mineiro a sensação que me vem não é a de ter ouvido uma análise precisa, mas algo meio oportunista. Mas o que se há de fazer? Há tempos o universo da
bola ilude certos senhores insinuando que o céu será daqueles que jamais deixam
de ter uma opinião contundente.. E assim, cheios de medo de serem apontados como
um tipo de gente que não sai de cima do muro vão, um a um, se atirando de lá de
cima, fazendo cair por terra o bom senso.
E não me venham com
essas estatísticas que mesmo indo ao subterrâneo do jogo nada mais
fazem do que transformá-lo em algo raso. Tô cansado de saber que foram raras as
vezes em que o campeão do primeiro turno não ficou com o título. Tudo bem. Mas ver o Cruzeiro em campo diz muito mais do que qualquer número. Apenas acho que os que se dão a esse ofício não deveriam esquecer que não há diferença entre dar uma canelada ou chutar pra longe a possibilidade de tudo mudar, ainda que inesperadamente. Gostaria de saber quantos seriam capazes de admitir mais adiante, se vier
a ser o caso, que entregaram a taça a quem não deviam, que o fizeram antes do
tempo. As mesmas bolas que se chocaram contra a trave na última tarde de domingo
e que foram definitivas para que o líder incontestável saísse de campo derrotado
por seu maior rival continuarão lá. O improvável não é impossível.
Não estou aqui pregando que se feche os olhos para o que temos
visto, um time infinitamente superior aos outros, e que façamos dessa imprevisibilidade do
futebol um cânone. Mas que tenhamos a humildade de aceitar que pouco podemos
diante da riqueza de possibilidades ofertada pelo futebol. E que mesmo achando que
tá tudo resolvido se lembrem dessa ínfima chance, até porque soará
cuidadoso com o jogo. E, vejam, não é só a condição do líder que brinca neste momento com nossas
certezas. Eu, até a tarde do último domingo, acreditava que o descenso
não vitimaria o Palmeiras, apesar de toda a fragilidade. Mais aí ví o que se deu
nos noventa minutos em que o time dirigido por Dorival Júnior esteve diante do
Goiás e perdi um pouco a crença. O futebol tem o poder de oferecer e implodir defeitos
e virtudes com a rapidez de um raio. Nunca esqueço disso.
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