Olha, que me perdoe o leitor que veio até aqui querendo
ler alguma coisa sobre futebol. Mas me sinto na obrigação de escrever algo sobre
o nosso vôlei. Na semana passada citei a demora da FIFA em adotar uma medida
simples como o uso do spray. Não que eu seja um sujeito de
vanguarda. Quando alteraram a pontuação do vôlei tirando dela a vantagem achei o
fim. Mas chego a ficar impressionado com a evolução pela qual passou a
modalidade nos últimos tempos. Um avanço que vai muito além das alterações das
regras. Um salto técnico que tem a ver com preparação, estudo, criatividade.
Quem tem consciência do que era o vôlei brasileiro uns trinta anos atrás sabe
bem do que estou falando. Continuarei sendo sempre contra mudanças feitas
apenas para atender aos interesses da TV, geralmente preocupada em moldar os
produtos a seu bel-prazer sem respeitar os caprichos que o esporte impõe. Nesse
sentido vejo os grandes torneios de tênis com suas disputas em cinco sets para
os homens e jogos durando longas horas como um
símbolo de resistência. Inviáveis e, por isso mesmo, ausentes das TVs abertas
dirão os antenados.
O vôlei tem sido um bom exemplo de como o esporte pode
ser algo mais vivo e menos limitado por certos dogmas. Os da minha geração, que
jogaram vôlei, tem boa noção do que representa ter virado a grande referência
mundial da modalidade. Não que esteja tudo perfeito com com o nosso vôlei. Não
temos campeonatos internos fortes, o que obriga nossos atletas a ir para o
exterior e tal. Mas na última segunda feira quando abri o jornal e pude ler que
o título do Grand Prix conquistado pela nossa seleção feminina era a vigésima
oitava competição de ponta que o voleibol nacional faturava nos últimos trinta
anos, não consegui conter um sorriso de satisfação. E nesse caso ponta é ponta
mesmo, com medalhas de ouro olímpicas e tudo.
Uma hegemonia construída com muito
suor e talento, traída só pelas falcatruas que tempos atrás estamparam os
jornais e reviraram as entranhas da Confederação Brasileira de Vôlei.
O que o futebol brasileiro tem de querer hoje em
dia é ter a dimensão do nosso vôlei. Ter a sua capacidade de pensar e criar, de
lidar com o jogo, com as pressões. Ser respeitado como nosso voleibol! Ou terá
sido fácil para as comandadas de José Roberto Guimarães entrar em quadra sabendo
que se quisessem sair de lá com o título poderiam perder apenas um set para o
Japão, que jogava em casa? Quanto ao futebol, está mais do que na hora de
pensarmos não no que ele tem nos dado, e sim no que tem nos tirado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário