Caímos do trono, de certo caímos. Vitimados por dez gols impiedosos
que nos foram desferidos em momento pra lá de solene, justo quando do alto da
nossa cegueira ludopédica começávamos a achar que poderíamos voltar a ser
campeões do mundo. Tombo bendito, obra de alemães e holandeses. Mas, pensemos pra frente como o momento exige. Alguém
haveria de nos colocar no devido lugar, ainda que não falte por aí gente batendo
no peito exigindo respeito e bradando aos quatro ventos que ainda somos os
únicos a ostentar cinco estrelas. E daí, e daí? A quem interessa sentar nos
louros de uma glória passada?
Talvez a esse senhor já um tanto gasto que
prometeu falar amanhã pela manhã. Bebi esses dois placares como quem sorve
uma dose amarga de realidade. Era uma vez o futebol arte, que seja. Os alemães
nos deram aula do jogo, sem uma firula se quer, sem colocar uma cereja no bolo,
por mais que aquela matada de bola no peito de Gotze - antes de decretar o
fim do sonho que movia o futebol dos sempre valentes argentinos - tenha algo de
sublime.
O futebol arte pode ter morrido, tudo bem. Mas é com ele que eu
continuarei sonhando, será ele que eu continuarei procurando toda vez que pousar
meus olhos sobre um campo gramado de jogo. Mas isso só interessa a mim. Na
condição de pátria de chuteiras tratemos, então, de nos mostrar capazes de
criar algum antídoto pra esse futebol científico que nos vitimou. Se tivermos a
erudição de nos mostrar capazes de lutar com outras armas, como fizemos outrora,
tanto melhor será. Pois antes de tudo terá sido o resgate do orgulho de
triunfarmos de um jeito todo nosso.
Mas se não der, tratemos de estudar as
táticas, convocar os catedráticos. Tratemos de esmiuçar cada estudo que aponte um caminho. E
não custa inocular no peito dessa nossa gente algo que acabe de vez com
essa multidão de pais que enxergam teimosamente um craque em cada casa. Que
levam os filhos pra jogar bola como quem leva um galo pra rinha. Vendo os
alemães e os índios, e seus banhos de mar no mar da Bahia me bateu uma sensação
tão nítida de que o que nos falta mesmo é uma consciência coletiva. Uma
exaltação do coletivo. Daquilo que se conquista junto. Não essa coisa meio cada
um por si que desde sempre pareceu tentar nossas almas. O futebol ? O futebol é
e será o que sempre foi. Algo que nos aglutina. Mas que antes, em nós, conseguia
cumprir à risca essa sua missão.
* artigo escrito para o jornal "A Tribuna", Santos
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