quinta-feira, 24 de julho de 2014

Dunga, na linha de frente


Há na escolha, e não só na de Dunga, uma prova clara do estreito horizonte que os homens que comandam o futebol brasileiro são capazes de vislumbrar. Continuam todos fiéis ao mandamento de que o importante numa hora dessas é não naufragar e tocar o barco adiante até que os resultados os levem pra águas mais calmas.s. Lá nos idos de 94 tinha um companheiro de redação que dizia sentir calafrios só de pensar em ver o Dunga levantando a taça de campeão do mundo. E ele levantou.

Longe de mim me ancorar nas estatísticas. Mas dizer que Dunga, com toda sua falta de experiência e descrédito não foi bem no comando da seleção é uma mentira. Dunga foi bem sucedido. Obteve boas conquistas, mas que não conseguiram se transformar em marcas maiores do que as de seu   temperamento.Graças ao seu estilo Dunga alcançou uma outra façanha, a de tratar a imprensa de maneira mais igual. O que não quer dizer educada. 

Costumo brincar com os meus amigos fazendo com que eles lembrem como eram feitas as escolhas dos times nos seus tempos de moleque. Lembro que, geralmente, começavam com um par ou ímpar e quem estivesse jogando mal podia se preparar porque só seria escolhido no final. Pois está aí o mandamento que o futebol brasileiro mais ignorou nos últimos tempos por motivos óbvios. Quase sempre mercantilistas.

Viver uma boa fase em outros tempos era flertar com a seleção. Hoje em dia tudo mudou. Estamos cansados de ver jogadores em boa fase ignorados na hora das convocações. O próprio Dunga fechou os olhos para a fase vivida por Ganso em 2010. O que temos visto são jogadores passarem uma temporada inteira sem jogar nada e sem perder seu lugar na seleção. Não se trata de um aspecto que é só de Dunga. Ele, talvez, por seu temperamento, seja mais dado a laços de confiança. E por isso a crítica de que Dunga havia transformado a seleção numa espécie de igreja fez tanto sentido. 

Dunga pode fazer a seleção brasileira voltar a vencer. Mas o fato é que nesse momento da história a vitória só deixará satisfeitos os interesseiros e os distraídos.Todos os outros exigirão um futebol digno, transparente, renovado, bem comandado, bem sucedido e de estilo próprio. Portanto, se Dunga acha que foi escolhido só por seus méritos está redondamente enganado.Dunga foi escolhido, principalmente, por ter um estilo muito apropriado para fazer a linha de frente para todos os que estão, desde aquele sete a um, sendo alvejados por sinceros e oportunos pedidos de mudança.  

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