Estamos cansados de saber do que o Brasil é capaz. E com a Copa chegando acredito que esse nosso jeitinho tem tudo pra ficar mais famoso do que nunca. Pois se há uma virtude nesses grandes eventos esportivos que decidimos abraçar é a capacidade que eles têm de escancarar a realidade e os hábitos do país que os sedia.
Não faz muito tempo o governo chinês se esmerou para receber os jogos olímpicos. Tratou de construir obras sensacionais, capazes de encantar o mundo. Quem não se lembra do estádio Ninho de Pássaro? Tudo parecia perfeito. Mas bastou a mídia internacional desembarcar por lá alguns dias antes da Olimpíada para que as notícias do ar irrespirável de Pequim rodassem o planeta, bem como o estranhamento com o hábito dos chineses de cuspir em qualquer lugar.
Ainda assim um dos traços mais lamentáveis da nossa cultura tem tudo para passar despercebido: a velha malandragem de tirar proveito do momento. Algo que o batalhão de turistas e profissionais que desembarcará por aqui talvez não perceba pela impossibilidade de comparar o presente ao passado mais recente.
Falo do hábito sacana do qual nem mesmo o sujeito que lhe vende coco verde ou cerveja ali na praia te poupa, mesmo jurando ser seu amigo do peito. De repente, o coco que era três passa a custar cinco. A cerveja que era cinco passa a custar sete, ou sei lá quanto. Mas porque ele não teria o direito de agir assim se no país inteiro é assim que a coisa funciona? E não pensem que não é.
As notícias dão conta de que na época da Copa as diárias dos nossos hotéis poderão custar até quinhentos por cento mais, segundo estudos da própria Embratur. E não serão só os hotéis. Acabo de ler também que, segundo um outro levantamento feito recentemente, nos últimos quatro meses houve um aumento de até seiscentos e vinte e seis por cento nos preços das passagens aéreas para destinos como Brasília e Fortaleza, duas sedes da próxima Copa.
Tomara que os que desembarcarem por aqui não acabem achando que se trata de uma forma revolucionária de economia liberal. A Copa já tem a nossa cara. O Brasil está todo ali. Na dinheirama que jorra do governo, no jogo político, nos interesses e adulações que insistem em parir elefantes brancos, no descaso com o que deveria ser prioridade. E, olha, se em junho do ano que vem, quase em pleno inverno, o seu amigo vendedor de coco lá na praia te disser que o precinho camarada já não é aquele, não se espante, principalmente, se ao questioná-lo o sujeito lhe responder dizendo:
_ É a Copa , Doutor. É a
Copa!
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