Entrevistas coletivas são, em geral, muito chatas. Nessa realidade infértil que se abateu sobre o futebol em nome da modernidade - em que já não é possível ao jornalista tramar uma pauta e decidir soberanamente que jogador irá ouvir - esse tipo de entrevista virou um mal necessário. O resultado está aí para quem ainda tiver paciência para ver ou ouvir.
A coletiva concedida por Neymar na última segunda foi uma prova cabal dessa teoria. O jovem jogador santista teve os nervos testados. Precisou repetir infinitamente as mesmas coisas, provocado por perguntas feitas de maneiras diferentes mas que giravam em torno de uma só questão. Como dizem os espanhóis, Neymar ficou "aburrido". Não era pra menos.
A culpa de tudo isso não é dos jornalistas, ou só dos jornalistas. A eles só resta, ou restou, aquele momento. Uns perguntam o mesmo porque querem a interpelação gravada na sua própria voz, outros se distraíram no momento em que ela foi respondida pela primera vez, há também os que concluiram que as respostas anteriores não esgotaram o tema, e assim a roda da mesmice passa a girar de maneira irritante e descontrolada. Seria demais pedir aos repórteres que não repitam questões sobre um mesmo tema. Embora eu ache que esse dia não tardará.
Agora, imaginem que os treinadores, jogadores ou dirigentes quando vão gravar, em geral, atendem veículos em separado. Primeiro falam pra TV, depois para as rádios e finalmente para o pessoal da mídia impressa. Pensam o quê? Jogar em times de primeira linha não é só andar de carrão, flertar com mulheres bonitas e fazer um considerável pé de meia. A vida de boleiro tem lá suas penitências, e são muitas, eu sei. Todo ofício tem.
Muitos ali têm sido levados dia após a dia a repercutir essa ladainha da saída do Neymar só por causa das notícias que chegam até nós vindas dos sites e jornais esportivos da Espanha. O Caro leitor já notou que os furos nunca saem de um veículo como o "El País", por exemplo, hoje considerado um dos jornais mais respeitados do mundo? Nada disso.
Elas, as notícias bombásticas, sempre partem dos "ilibados" diários esportivos da Espanha que só faltam estampar as bandeiras do Real e do Barça como se fossem logotipos da empresa. Tenham a santa paciência. Não resta dúvida de que a permanência de Neymar tem sido de grande valia não apenas para o Santos mas também para o futebol brasileiro.
Acredito que a única razão que poderia amparar e provocar um desejo de partida em Neymar seria o fato de querer ser reconhecido como o melhor do mundo. Um desejo pra lá de legítimo. Não podemos ser inocentes. Pra brigar por esse título só mesmo atravessando o Atlântico, pois a FIFA parece não ter olhos para a América.
E pedir que Neymar dê conta disso, mude essa realidade, é pedir para que ele aceite brigar com moinhos de vento. Enquanto isso, ficamos todos nós, que nem sabemos ao certo onde vamos almoçar amanhã, querendo saber de Neymar o que ele fará depois da Libertadores do ano que vem.
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
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