Que os dirigentes não queiram colocar fogo no circo dá pra entender. Eles são partes atuantes dessa imensa festa chamada futebol brasileiro. Uma boa prova disso é que o Ministério do Esporte abriu o cofre para o Sindafebol, o Sindicato Nacional das Associações de Futebol, que pelo que o Google me diz aqui nem mesmo um site tem.
Os mais de seis milhões de reais foram repassados com a intenção de que o Sindafebol coloque em andamento um projeto visando a Copa de 2014, cujo objetivo é cadastrar torcidas organizadas, mesmo sem ter a mínima experiência pra isso. Oito meses se passaram desde a assinatura do contrato e até agora tudo continua no papel.
Mustafá Contursi, figuras das mais conhecidas no mundo da cartolagem e presidente do Sindicato se apressou em dizer que não era bem assim, não estava apenas recebendo dinheiro, e que havia uma contrapartida. É verdade, ela existe, e é de dois por cento do valor do convênio. Ou seja, para receber os mais de seis milhões o Sindafebol terá que gastar cento e vinte seis mil reais. Mas não era exatamente sobre os cartolas que eu queira versar.Acabei levado pela indignação.
Queria falar da atitude dos nossos atletas. Na minha vida de repórter o que mais escutei foram histórias de jogadores que depois de trabalhar ficaram sem ver a cor do dinheiro. E nesse time de maus pagadores jogam todos,grandes e pequenos. Pois acabamos de ver os jogadores da Espanha colocarem em curso a quarta greve da história do futebol naquele país. Uma das grandes bandeiras era fazer com que o fundo criado para salvar os atletas, vítimas de calote, tivesse recursos suficientes para cumprir sua função.
E pensar que nós aqui, no terror do nosso subdesenvolvimento, na eterna condição de país do futuro, do futebol e tal, nem fundo temos. Não seria uma boa hora pra pensar nisso? Os movimentos do mundo estão aí pra nos ensinar, ao menos. Mas vocês são capazes de imaginar algumas das estrelas da nossa seleção dando a cara a tapa,como fez o Puyol e tantos outros lá na Espanha?
Vale lembrar que no mundo da bola os bem pagos são minoria, as cifras estampadas nos jornais criam um mundo de fantasia. O fato é que os caras bateram o pé e fizeram os manda-chuvas garantirem o pagamento de cinquenta milhões de euros que os clubes ainda deviam a mais de duzentos jogadores que ficaram com salários atrasados da última temporada.
Eles também conseguiram ampliar o valor do fundo para cobrir salários de jogadores de clubes em dificuldades financeiras e incluir no acordo uma clausula que põe fim aos contratos se os clubes ficarem em dívida com o atleta por mais de três meses.
Na Itália a bola só irá rolou na última sexta depois de encerrada uma greve, que se não foi tão contundente e eficaz como a da Espanha, mostrou que os jogadores são capazes de se mobilizar para lutar por seus interesses. Eles se negaram a pagar sozinhos um tal "imposto de solidariedade" criado pelo premiê Silvio Berlusconi, que é também o presidente de honra do Milan.
Outra preocupação dos italianos foi exigir garantias de que os clubes irão preservar atletas em fim de contrato, ou que não façam parte dos planos dos times, e de que eles não serão transferidos contra sua vontade, além de ter assegurado o direito de continuar treinando com o restante do grupo.
Não é só o nosso jeito de jogar que anda frágil, é nossa maneira de lidar com o futebol também. Pelo visto estamos ficando para trás. O que somos capazes de copiar dos europeus em matéria de bola? Planos de marketing extravagantes, o jeito pesado de jogar?
Fossemos nós um povo que cuida bem dos seus direitos não seria exagerado dizer que os nossos jogadores de futebol teriam vergonha de encarar a torcida de cabeça erguida, olho no olho. Fossemos nós esse outro tipo de povo. Mas de alguma forma somos todos pelegos,no amor,na vida,e isso por si só é capaz de explicar o futebol que temos. E, olha, não foi por falta de alguém para apontar o caminho, não é mesmo meu nobre Doutor Sócrates? E viva a nossa independência fantasiosa, a nossa democracia.
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
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