Era dia desses que nos faz dizer verdades o que vivia quando me pus a digitar este artigo. Não digo verdades no sentido mais absoluto da palavra porque não alimento tal pretensão. Digo verdade como algo que de tão evidente, tão óbvio, se torna incômodo. Dou um exemplo.
Dias atrás o fato dos quatro grandes times paulistas terminarem uma rodada do torneio estadual com o mesmo número de pontos causou exaltação. A igualdade numérica tomou ares de grande acontecimento. Especialistas logo se puseram a vasculhar os arquivos com a intenção de esclarecer o quanto essa situação era mesmo singular.
Ora, se a atual edição do Campeonato Paulista tem alguma virtude não é essa, e sim a de dinamitar de uma vez o mito do equilíbrio. Em geral nas conversas que ouço sempre há a sugestão de que o equilíbrio poderia nos reservar um tipo de paraíso ludopédico, um nirvana daqueles em que cada partida se tornaria mágica. Pura balela.
Poderíamos ter vinte times com o mesmo número de pontos que estaríamos do mesmo modo cercados por esse marasmo que anda rondando o futebol não é de hoje. Tivéssemos vinte Gansos, um em cada time, aí sim a história poderia mudar muito e o paraíso ludopédico, enfim, talvez se apresentasse.
O Paulistão está nivelado não resta dúvida, o futebol está cada vez mais nivelado, mas a qualidade técnica está longe, muito longe de ser impressionante. Nada tem dado um grande caldo, nem mesmo os clássicos, nada. Esse pretenso equilíbrio não deveria ser tratado como algo importante e vou dizer porque. Porque depois da rodada do último final de semana estou convicto de que só o talento dos jovens é que tem salvado o Paulistão da modorra.
Não que eu não respeite o chute preciso de Marcos Assunção ou a técnica apurada de Rogério Ceni. Agora, quando começo a imaginar o torneio sem o estilo e a leveza de Neymar, sem a categoria de Paulo Henrique Ganso, ou sem o momento mágico e preciso de um Lucas, resta quase nada.
E já que é pra dizer verdades (ou seriam obviedades?). Quero registrar aqui que o Santos pode até não conseguir, ou não querer, convencer Muricy Ramalho a assumir o time da Vila Belmiro. Mas um clube que conseguiu montar um elenco como o do Santos, que alimenta as pretensões que o Santos alimenta, tem a obrigação de fazer o possível - e quem sabe até o impossível - para trazer o treinador que conquistou quatro dos últimos seis campeonatos brasileiros.
Muricy tem bem mais do que títulos pra justificar esse esforço. Pra usar uma palavra que costuma aparecer com certa constância no vocabulário do próprio Muricy, pode até não dar liga. Ao passo que não tentar seria desdenhar de uma oportunidade que não se tem todo dia.
O detalhe nesse caso, é que o Santos talvez não tenha trinta dias para gastar, esperando que o treinador cumpra sua espécie de "quarentena" que, aliás, parece ser de muito respeito com o futebol e com o ser humano que passa a vida se dedicando a ele.
quarta-feira, 16 de março de 2011
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