Como jornalista sempre encarei os números do futebol com uma desconfiança enorme. Gostaria muito de fazer uma matéria mostrando as carteiras de trabalho dos nossos maiores craques. Imaginem aquele bendito campo salário preenchido com números seguidos de tantos zeros, como não despertaria a curiosidade e a inveja de trabalhadores comuns. Sem contar o sarro ao de dar de cara com a velha foto, e o prazer de descobrir a trajetória do dono da mesma através de registros pra lá de antigos.
Dirão os mais precavidos, seja qual for a intenção da precaução, que não vivemos mais numa época que permita falar de faturamento sem ficar exposto ao perigo. Os contabilistas, depois de um sorriso cínico, irão tentar colocar em xeque minha intenção dizendo que não é assim. Que na carteira está só uma pequena quantia, o resto vem como direito de imagem, através de notas, empresas etc e tal.
Ah! Mas como eu gostaria de ver cada uma dessas notas e suas guias de recolhimento. Como deve doer pagar imposto sobre um salário de quinhentos mil reais. Embora, doa mesmo é saber que quase nada nos será dado em troca. Sei que ver esse meu desejo satisfeito é mais difícil do que ver casamento de ....Deixa pra lá!
Esses números impressos em jornais, ditos em alto e bom som na TV, exaltados por comentaristas, sob certa ótica, além de tudo, seduzem, quase compram manchetes. Afinal, a mídia é parte do negócio. Mas antes de comprar é preciso esquentar a transação, fazê-la ecoar, torná-la de conhecimento mundial, esperar o Berlusconi encarar a votação para o Parlamento Europeu.
É preciso ser cirúrgico na hora de bater o martelo. Fazê-lo momentos antes da nossa seleção partir para a África e ficar na vitrine do mundo, não é acaso. Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, o homem por trás do negócio, sabe disso. Está acostumado com grandes somas.
É dono de uma das maiores construtoras da Europa. Sexta fortuna da Espanha. Tão esperto que ao pressentir, tempos atrás, o esgotamento do setor imobiliário, sem titubear, transformou a empresa dele em principal acionista da maior companhia elétrica do país. Uma jogada de oito bilhões de reais.No entanto, é possível que você só o conheça por ter montado um Real que era uma galáxia, e por fazer as contas do time ganharem tamanho astronômico.
Penso nas cifras dessa transação. E volto a lembrar da inocência das nossas carteiras de trabalho. Sigo desconfiado. Mas se tivesse um cofre cheio e pudesse comprar um único jogador da seleção brasileira, compraria o Kaká. Difícil seria encarar um craque da envergadura de Florentino Pérez na disputa.
quinta-feira, 11 de junho de 2009
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