sábado, 28 de junho de 2008

Uma torcida desiludida

A vida de jornalista exige sensibilidade para aquilo que ecoa entre as pessoas.

Você passa a ter um compromisso com a percepção do impacto causado pelos acontecimentos, e a medida que nos revela o tamanho desse impacto também nos chega pela quantidade de vezes que um encontro casual com um amigo, com o motorista do táxi, com o porteiro, e até com quem você nem conhece, acaba ou começa com uma pergunta, feita, claro, para ajudar o interessado a se situar sobre o assunto. Basta uma notícia de impacto, e seu dia se enche de interrogações.

Veja, não se trata de lamento, creio até ser um bom exercício tentar responder cada uma delas. Esta semana que se vai, imaginem, então, foi povoada de perguntas e mais perguntas, lógico. Em poucas palavras:

“_ E o Santos, hein? “

Dizer o quê? O momento é delicado. Preocupante.Uma grande renovação exigirá um tempo que o time não tem pra gastar. A goleada sofrida no último domingo reabriu velhas feridas e mostrou de modo escancarado seu preço. A torcida voltou a tumultuar a cena.

Mudar essa realidade vai exigir enorme esforço, trabalho, foco, porque em uma edição de Série A como a atual, marcada pelo equilíbrio extremo, a titubeada pode ser fatal. Incrível que um time que passou a última meia década jogando e faturando como os melhores do continente, se encontre diante de uma situação tão melancólica.

Brutal é o papel que Cuca terá que encarnar, se permanecer. Uma verdadeira “sinuca de bico”. O treinador, no entanto, já mostrou que tem talento para usar como antídoto.

Agora, lembra quando a mídia insistia em exaltar o modelo de administração do São Paulo, lembra? Pois, é! A coisa torrou a paciência dos adversários, eu sei, muita gente reclamava. Não vou aqui me entregar a ufanismos. Calma lá. Sei que não é bem assim.

Mas faço questão de lembrar isso porque uma coisa é certa, se olharmos o tempo que o São Paulo vem navegando, garboso, entre os tais do futebol nacional - quiçá mundial - lá se vão mais de quinze anos. Um ciclo que testa a inveja dos concorrentes. O Palmeiras da Parmalat passou, passou o Corinthians do Excel, da Hicks, da MSI. Insinuações fortes de que o futebol se desenvolve em ciclos, e o Santos dá sinais de que pode estar chegando ao fim de um.

A sugestão que rondou o Palmeiras, rodadas atrás, agora vale para o peixe. Um time, para cumprir a missão de mudar o rumo das coisas, só poderá ser formado por homens que queiram ficar.

Uma nova rodada se aproxima. Há muita emoção no horizonte. Nos arredores da velha Vila, o resgate de um futebol elogiável se faz urgente. Mas relaxe e curta uma longa sexta. O Santos está prestes a voltar ao gramado, ou seja, o futebol vem aí, e promete, além da diversão, suscitar novas perguntas.


* artigo escrito para o jornal "A Tribuna"

6 comentários:

Anônimo disse...

O problema da maioria dos clubes do Brasil está nos cartolas. Com o Santos não é diferente há tempos. Samir Abdul-Hak não mostrou trabalho com o dinheiro da venda de Marcos Assunção, por exemplo. Marcelo Teixeira começou com uma medida não muito inteligente quando contratou uma leva de medalhões. Porém, deve-se perdoar essa política devido ao desespero imposto pelo jejum de títulos. Depois, Teixeira foi bem na manutenção dos Meninos da Vila e na contratação de atletas na reposição dos que saíram. O erro do atual presidente foi dar total liberdade a Vanderlei Luxemburgo na sua volta, em 2006. Se no mesmo ano conseguiu o Paulista com um time limitado, depois gastou o que o clube não podia. Não acho que o trabalho atual de Marcelo Teixeira justifique sua permanência nas próximas eleições. O que precisamos é pensar se a oposição tem capacidade e honestidade para assumir o comando. O que você acha, Vladir? Eu realmente ainda não sei. Como ponto positivo do momento santista, acho que Cuca é o homem certo para montar uma nova base e as contratações de Michael e Fabiano Eller são interessantes.
Maurício Fernandes.

Anônimo disse...

É, mas o Santos não pode esperar até agosto pra isso. Tem que definir logo quem entra e quem sai, pro Cuca trabalhar com tranquilidade.

A propósito, gostei da sugestão do Hiddink na Seleção. Só que seria improvável: ia ser mais cornetado que qualquer outro. O orgulho dos nossos treinadores e de alguns comentaristas xenófobos falaria mais alto.

Uma opção bem mais viável seria o Zico. O que você acha?

Anônimo disse...

(Se ele não for para Portugal)

Vladir Lemos, jornalista disse...

Maurício,

o que eu acho é que o Santos não tem oposição, ou melhor, tem só pontualmente, o que não basta.
E esse é, sem dúvida, um dos problemas do clube.


Abraço

Vladir Lemos, jornalista disse...

Marcio,

o Zico já falou que com a turma que está na CBF ele não trabalha.
E, sobre o técnico holandês, devo dizer que fiquei com curiosidade pra ver no que daria misturar o futebol holandês e o brasileiro, sem dúvida daria algo muito original,né?

Abraço

Anônimo disse...

Vladir:
Não achei como lhe mandar um email particular, então vai aqui mesmo. Agradeço sua generosidade em colocar o link do meu site no seu blog. Breve, vou começar a editar livros: tenho quatro em produção e mais outros tantos em gestação. Escreva para mim que mantenho você informado.
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