quinta-feira, 4 de novembro de 2021

O Flamengo, o Peixe e a torcida




O coro xingando  Renato Gaúcho no Maracanã enquanto se desenhava a vitória do Athletico Paranaense que eliminou o Flamengo da Copa do Brasil foi das cenas mais impactantes dos últimos tempos. Sensação muito provavelmente realçada pela condição em que foi transmitida.  Com o áudio ambiente em destaque  e com a imagem do treinador e seu semblante pra lá de desconfortável em primeiro plano com a arquibancada que cantava o coro ao fundo.  Tudo sendo mostrado simultaneamente.  Arrisco dizer, inclusive, que pode ter sido esse, mais do que a derrota em si, o motivo dele ter entregado o cargo depois do jogo. O que não foi aceito pelos dirigentes. 

O que me faz pensar isso é que desde sempre existiu no trabalho do Renato Gaúcho essa mística com a torcida. Seus trabalhos sempre estiveram um tanto ancorados nessa relação desenhada desde os tempos de jogador.  Foi assim no Grêmio, é um pouco assim no Flamengo e também foi assim na época do Fluminense, ainda que com outra intensidade.  Mas naquele momento tudo isso pareceu ter caído por terra.  O calor da torcida tem um preço, que pode ser alto. Gabigol quis falar depois do jogo. O que não costuma ser normal.  Talvez tenha percebido que era preciso estabelecer um diálogo com a torcida naquele momento. Evitar que a ruptura fosse maior. O afastamento. 

Isso tudo pode apontar um caminho para o Santos nessa reta final de Brasileirão que se revela dos maiores desafios que o clube já viveu. Em poucas palavras: é preciso ter a torcida junto. Que uma vitória melhora qualquer relação todo mundo sabe. Duas, então, nem se fala. O jogo contra o Fluminense deixou isso muito claro. Depois do primeiro gol naquele duelo de tudo ou nada  deu-se uma verdadeira transformação. Claramente visível. No time e na arquibancada. Em uma situação dessas vale tudo. Um encontro com craques do passado, o capitão do BOPE, o sal grosso, a troca do executivo de futebol. 

Mas na minha modesta opinião cuidar da relação do time com a torcida  é crucial. Sabemos todos que a Vila faz tempo, desde antes da Pandemia,  já não fazia jus a velha alcunha de Alçapão.  Coisa que se resgatada seria uma vitamina danada. E olha que o time viveu bons momentos em sua história recente, ainda que improváveis como já dito aqui. Estou convencido que a essa altura nem se trata de uma questão numérica mas de animosidade. Que venham os verdadeiramente dispostos a colocar o time pra frente, a gritar mesmo quando no gramado a situação por ventura venha a se complicar.  

No final de semana a Vila será palco de mais um clássico, no qual o Peixe está longe de ser favorito.  O adversário será o Palmeiras que, criticado como poucos até semanas atrás, dá a impressão de que vive um embalo poderoso. O Grêmio que atravessa situação ainda pior que a do Santos e foi a última vítima do time palmeirense, depois de tudo o que viu acontecer em sua Arena, e ouvir o vice de futebol dizer que a torcida estará com o time até o fim, recebeu uma punição e jogará em casa com portões fechados e sem cota de ingressos quando for visitante. Mais acertado seria dizer que em momentos assim não poder contar com a torcida tem tudo para ser fatal. Os espertos aprendem com a lição dada aos outros. 

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