Há muitos mistérios a rondar o futebol. Um deles, intrigante, é o que faz um jogador render muito mais num time modesto do que em um time grande. Exemplos são muitos. Tenho certeza de que o nobre leitor tem bons exemplos guardados na memória. E muito pode ser dito a esse respeito. A cobrança maior, o bafo da torcida, o fato de se deparar com um nível técnico sensivelmente mais alto. E, vejam, estou falando de times que vivem nossa realidade não de atletas que saíram do Brasil para jogar no exterior. Caso no qual, aliás, se encaixaria Gabriel Barbosa, que ao voltar da Europa virou ídolo do Flamengo. Ainda que no Brasileirão não figure no topo da tabela dos artilheiros.
No topo está Gilberto, atacante do Bahia, e que de certa forma poderia ser visto assim. Passou pelo Internacional, pelo São Paulo e, no primeiro caso, vindo de um time de menor expressão. Não despontou. Batucando estas linhas acabei lembrando, por exemplo, do frisson causado pelo meia Piá quando vestiu a camisa da Ponte Preta. Dava gosto. A temporada com o time de Campinas lhe valeu a ida para o Corinthians, onde desembarcou com toda a pompa mas sem conseguir dar conta de toda a expectativa que o cercava. Já havia passado pelo Santos em duas oportunidades, inclusive.
Poderíamos falar de times mesmo, muitas vezes formados majoritariamente por atletas que desenharam caminhos desse tipo. Outro dia conversando com o lendário Roberto Rivellino acabamos caindo no assunto. Riva ouviu, ouviu. E eu ali na ânsia de descobrir o que ele ia dizer, imaginando que com tudo o que sabe poderia dissolver de uma vez por todas esse mistério. Ponderou apenas que ao estar num clube menor o bom futebol costuma ser, quase sempre, a única maneira de ir - ou voltar - a um time de maior expressão. Há uma velha máxima que diz que muita facilidade amolece o espirito, da qual nunca duvidei.
É fato que a vida de nababo que os grandes clubes oferecem aos seus jogadores hoje em dia poderia muito bem ter sua parcela de influência nessa realidade. Diziam na época que o Real Madrid dos galácticos acabou ruindo um pouco por causa disso, lembra? O clube era obrigado a fazer contratos milionários, que por sua vez tinham de ser longos. Chegou uma hora em que todo mundo ali tinha ainda três ou quatro anos de contrato, ganhando muito. Em outras palavras, estavam com o burro na sombra. É um jeito raso de ver o fato, talvez. Mas como o intrincado da realidade a faz difícil de explicar, vai saber. E por falar em artilheiros, o que é sempre bom. Gilberto, dizem, anda na mira do Santos, do Corinthians e do São Paulo. Se rolar, veremos como se sai. Mas talvez não haja nada de mistério nisso tudo, só as forças que atuam sobre os homens, e os interesses de sempre. Vai ver sou eu que ando meio místico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário