Há tempos a qualidade dos jogos do nosso futebol virou tema constante. Não era para menos. Peço perdão até se farei o torcedor recordar insistentes penitências vividas por causa da paixão pelo esporte bretão. E ainda que esteja longe de ser novidade que as paixões trazem consigo vez ou outra boas doses de dor, a coisa anda passando dos limites. Ninguém merece doar quarenta e cinco minutos da vida para ter em troca um par de chutes a gol. E vejam que se fazem cada vez menos raras situações em que nem um mísero chute perigoso se passa a ter direito. Está aí o recente primeiro tempo do Santos contra o Bahia que não me deixa mentir. Ou o jogo mesmo entre Palmeiras e Atlético Mineiro pela Libertadores. Dois times considerados o que temos de melhor.
Uma realidade que vai se fazendo tão cruel que é impossível pensar que não terá um efeito destrutivo sobre a relação com o torcedor. E só mesmo um sem fim de sessões analíticas pra desvendar a razão maior que faz o torcedor assim tão apaixonado, ainda que a palavra mais sensata pra isso talvez fosse dependente. Agora aqui, batucando estas linhas, me ocorre que tudo venha a ser muito mais simples e não passe puro hábito. O hábito que um velho pensador disse, e muito bem, que é a nossa segunda educação. No fim o que vou defender pode dar uma embolada na cabeça de quem lê uma vez que times como Flamengo e Atlético Mineiro são apontados como responsáveis por darem um toque de excelência ao nosso futebol. Despertando os olhares até daqueles que torcem por outras camisas. Coisa cada vez mais rara, mas desde sempre o melhor dos sintomas do jogo de bola.
E o que infelizmente pode servir de contraponto ao que andei defendendo aqui. A saber, que aos poucos uma nova ordem vai se impondo no panorama futebolístico do nosso país. Momentos como o do Fortaleza diante do São Paulo no jogo de volta das quartas de final da Copa do Brasil, seria um exemplo. Mas acho bom esclarecer que quando digo isso penso mais no clube como um todo, do que no que se dá em campo. Prova disso é que o time cearense até eliminar o São Paulo amargava uma sequência de seis jogos sem vitória. Mas se vou costurando o meio de campo aqui como se fosse um Zizinho - que há cem anos nascia para fazer do futebol algo que é o avesso do que andamos vendo - é pra chegar à grande questão. Uma certa transformação a que essa pobreza futebolística fatalmente nos condena.
Começo a perceber que mais do que o jogo, passo a me divertir como nunca com uma visão mais macro, pra usar um termo meio catedrático. Percebo que a história do time vai tendo mais graça do que o próprio futebol. O drama de um treinador, a postura do presidente, a fase que promete decepções nunca vividas. Ainda que aí tudo não passe de um grande drama. Para além das quatro linhas há mais graça do que dentro delas. Tá certo, isso sempre existiu, as histórias dos times, as dos homens. O jogo é tudo isso. Mas o detalhe está no peso que certas coisas dessas passaram a ter.
Diante do futebol opaco instintivamente se procura uma saída. E é bom notar que nos últimos anos a crônica esportiva ajudou como pôde insistindo em jogar luz sobre questões táticas , técnicas, científicas. E a impressão que tenho um pouco também é que até esse viés do olhar, do discurso, anda se desgastando, perdendo o sentido. Chego a arriscar que até esse burburinho envolvendo o VAR, a arbitragem, se dá um pouco em razão disso. É parte da mesma onda. Uma tentativa desesperada de buscar graça em outros lances, já que o poder de sedução do jogo dá a impressão de ser cada vez menor. O custo é alto, perigoso. Enfim, talvez seja só uma dificuldade minha em compreender que as coisas mudam. Mas se por acaso se afinarem com o que acabo de dizer, já sabem, não estão sozinhos.
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