Tenho tentado driblar o assunto. Juro. Mas ele teima em se impor. Nas últimas rodadas do Brasileirão foi de longe o que provocou as discussões mais fervorosas. Nem em momentos de pura cornetagem em cima desse ou daquele jogador foi possível notar veias tão estufadas. E não é pra menos. É coisa que mexe com o humor não só do torcedor, mas com o de todo mundo que de uma forma ou de outra está envolvido nesse circo. Enfim, cedi. Mesmo ciente de que de chato já nos basta o jogo, com exceções cada vez mais raras. E não se trata de falar mal do árbitro de vídeo, não.
Temos padecido de algo, creio, que já sabíamos, mas que de alguma forma nos envolvia numa fantasia. A fantasia de que o VAR teria a desejada virtude de ser conclusivo a respeito do jogo. Essa é a primeira questão que gostaria de abordar. Seria preciso - como diria meu amigo Xico Sá - fazer a geringonça tecnológica vestir as sandálias da humildade. Admitir, em certos casos, que mesmo dispondo de tantos recursos não é possível chegar a conclusão alguma. Essa deveria ser a lição deixada pela imagem que levou à anulação do gol de Luciano para o São Paulo diante do Atlético, em pleno Mineirão. Como aquele já estivemos diante de outros lances da mesma complexidade.
A pena de não ter a coragem de em certas situações tomar tal atitude, aceitar que não é possível ser preciso na análise, é nos condenar eternamente a essa ladainha, que vai se repetir fatalmente. Vira e mexe virá nos assombrar. O tema é complexo. Lembrarão alguns que na jogada em questão o bandeirinha tinha apontado impedimento. Ou seja, sem o árbitro de vídeo o desfecho teria sido o mesmo. A menos que o árbitro de campo tivesse tomado a decisão de desautorizá-lo. Ato que o faria comprar uma briga daquelas. Um outro detalhe merece reflexão. A forma como tem sido feita a escolha que define quem irá ocupar o posto de árbitro de vídeo.
Se o escolhido tem trajetória e reputação mais expressivas, mais nome do que aquele que terá a missão de estar no gramado, a situação inevitavelmente fica desconfortável para o dono do apito. E a indução a uma certa forma de ver o ocorrido muito provável. Questão fácil de ser identificada pela Comissão que cuida da arbitragem. No mais, não deve nos causar surpresa que as decisões oriundas da cabine, muitas vezes, deixem transparecer uma quedinha para os grandes. A vida dos times pequenos nunca foi fácil.
Imaginar que o VAR iria neutralizar essa (como definir?) tendência, pelo visto, é raciocínio tão ingênuo quanto imaginar que o árbitro de vídeo teria o efeito milagroso de arrefecer as polêmicas. O VAR, esse nosso pelo menos, que segundo levantamentos demora quarenta e seis por cento mais tempo do que recomenda a FIFA para tomar decisões, e cujas intervenções da última temporada para essa cresceram bizarros sessenta e oito por cento, precisa urgentemente de um bom analista. Ou quem acabara no divã seremos nós. Mais assustadores do que esses números do nosso VAR tupiniquim só mesmo os que indicaram a queda vertiginosa do nosso PIB.
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