Se você gosta de futebol e nunca leu algo escrito por Mário Filho a respeito do jogo de bola não tem ideia do que está perdendo. Sou suspeito para falar pois chego a gostar mais dele do que do irmão, Nelson Rodrigues, coisa que se a memória não me falha não faz muito tempo confessei. Não me entendam mal, tenho Nelson em altíssima conta. Mas tomarei a liberdade até de brincar um pouco com o tema. Vira e mexe alguém lembra que Nelson não enxergava bem. Mário enxergava muito, cada mínimo movimento. O que pode ser facilmente percebido com a leitura de um texto escrito por ele sobre Telê Santana. Linhas em que Mário o define como sendo o ponteiro dos segundos, jamais o das horas. Isso em virtude do jeito de Telê se movimentar em campo, de estar em todo canto do gramado. Sem nem sempre ser percebido . Portanto, não poderia haver injustiça maior do que subtrair do estádio mais importante do nosso país o nome dele. Subtrair é figura de linguagem, seu nome está lá estampado em letras grandes. Mas só os mal arrazoados acreditam que se trate de tema sobre o qual alguém deva ou possa legislar. O Mário Filho é o Maracanã, e ponto.
Essa questão do nome sempre foi um fantasma que rondou o novo estádio corintiano. O que se fez ainda maior pelo fato de o atual presidente do clube ter se mostrado desde sempre incomodado com a alcunha: Itaquerão. Eis que horas atrás, enfim, o Corinthians anunciou quem dará nome ao estádio. Um patrocinador, óbvio. Poderia ser o fim de uma novela mas, digamos, tem tudo pra ser o início de uma nova temporada dela. Isso porque talvez não seja tarefa fácil convencer os interessados por futebol desse nome de batismo. A coisa se arrastou por mais de meia década, o que certamente serviu para sedimentar na cabeça dos torcedores o apelido. Os desgostosos com esse nome, Itaquerão, vira e mexe sugerem chamá-lo de Arena Corinthians. Compreensível.
Mas como profissional de comunicação posso fazer uma observação. Há um consenso de que palavras repetidas empobrecem o texto jornalístico. E quando o estádio tem o nome do time a repetição se torna inevitável. Os mais atentos terão notado que o estádio palmeirense era chamado muitas vezes, no início, não de Arena Palmeiras mas de nova casa palmeirense. Nesse sentido sempre considerei uma ótima sacada chamá-lo de Allianz Parque, o que de certa forma o ligou ao antigo nome, que sempre frequentou o imaginário do torcedor. Ainda que o nome oficial do Parque Antártica fosse Estádio Palestra Itália. Quantas vezes aquele seu amigo torcedor do São Paulo lhe disse que iria ver um jogo no Cícero Pompeu de Toledo? Ele diz que vai é no Morumbi e acabou. Mesmo que muitos adversários gostem de lembrar que o estádio fica na verdade é no Jardim Leonor.
Tenho a mais absoluta certeza de que Mário Filho, conhecendo o futebol como conhecia, jamais se sentiria desrespeitado ao ver, ouvir, seu nome substituído por Maracanã. É literalmente do jogo. Fazer com que um estádio passe a ser chamado assim ou assado pode ser uma questão de negociação, quando se trata de veículos de comunicação. Mas colocar um nome na ponta da língua do torcedor, pelo que a história mostra, não é exatamente uma questão de negociação. Muito menos de imposição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário