Em pé: Zé Carlos, Ned, Pedrinho, ??, Jorge Amaral e Wilson Agachados: Wilson, Germano, Nico, Zé Lua e Peirão Fonte: giginarede.blogspot.com |
A coisa se deu assim. Sempre me interessei pelo futebol de praia. Poderia encontrar na minha própria história explicação pra isso. Dias e tardes atrás de uma bola às margens do Atlântico. Tanto que na conversa que tivemos por telefone - tempos de pandemia - o homem disse também que guarda muito bem a lembrança de verões em que as peladas à beira mar pareciam não ter fim. O que teve fim foi o tempo em que o futebol de praia tinha glamour. Em que os jornais da cidade se interessavam por ele e que, não raro, uma cena das rodadas disputadas nas tardes de sábado podiam ser vistas na primeira página convidando os interessados a saber de outros detalhes, dos resultados. Essa foi a época dele.
Mas o que despertou meu interesse por sua figura foi o fato de várias vezes enquanto conversava sobre futebol de praia o nome dele sempre aparecer. Conversas cujos interlocutores nem se conheciam. Coincidências que foram me convencendo de que o homem tinha mesmo bola para, vira e mexe, ser chamado de o Pelé da Praia. Não foi difícil encontrá-lo. Luiz Francisco Peirão Rodrigues não tem ideia de quantos gols fez. Não importa. Jogava com a dez, claro. Rei é Rei. E, embora tenha vestido outras camisas, entrou para a história envergando a do Campos Melo. Time com o qual venceu o campeonato de 1973, já um tanto perto da fronteira que marcaria o final do que hoje pode ser visto como um apogeu.
Uma época de ouro que foi da metade dos anos sessenta até a metade dos setenta. Sucesso facilmente medido pela atração que exercia. Muitas partidas, mesmo disputadas na praia, tinham lotação esgotada. Era difícil encontrar um ponto sequer de onde desse pra ver o jogo. E se o auge do futebol de praia durou uma década o reinado de Peirão se ocupou de abrilhantar metade dela. E o fez sem ter noção do que representava, sem notar a fama. Só o tempo o deixou tomar ciência dela, ainda que os acontecimentos lhe dessem pistas.
Lembrou que certa vez depois de uma partida disputada contra o Igaratá ali perto da Fonte Luminosa, no Bairro do Gonzaga, onde nasceu, foi abordado por um garoto que lhe pediu a camisa. Teve de dizer não. O o motivo era simples: só tinha aquela. O Rei da Praia usava a mesma camisa durante toda a temporada, quando não atravessa umas duas ou três com ela. Peço desculpas aos que são do métier por entrar em solo sagrado. Ao qual , se não for impedido, gostaria até de voltar semana que vem. Porque a virtude da história de Peirão, de sua fama, é provar que a beleza sempre fica. Mesmo depois de o futebol ter virado outra coisa.
* artigo escrito para o jornal " A Tribuna", de Santos/SP
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