Foto: Rubens Chiri |
O goleiro parece ocupar no futebol a mais
singular das posições. A meta traz embutida no desafio de defende-la algo de
único, que não está apenas no fato de quem aceita tal condição poder, ao
contrário de todos os outros que estão ali, usar as mãos. E como se não bastasse
o nível de regularidade absurdo que costuma se exigir deles o tempo ainda tratou
de tornar a missão ainda mais desafiadora, porque como se sabe foi-se o tempo em
que se exigia dos arqueiros habilidade apenas pra jogar com as mãos. E reza a
lenda que o gol costuma ser o destino dos que não têm talento suficiente para
tratar a bola com os pés. Não era o caso de Waldir Peres, mítico goleiro do São
Paulo, falecido no último domingo.
Para os mais jovens a melhor maneira de
explicar de quem se tratava é recorrer à definição dada pelo amigo e jornalista
Celso Unzelte: Waldir Peres foi o Rogério Ceni da época dele. E se não fosse o
Rogério até hoje seria o jogador que mais vezes vestiu a camisa
do tricolor paulista. Foi com Waldir Peres misturando sua técnica apurada com
uma dose generosa de malandragem que o São Paulo conquistou o Campeonato
Brasileiro de 1977. E isso quando o time do Morumbi não tinha em sua galeria nenhum título
de âmbito nacional. Nem Robertão, nem Rio-São Paulo, nada. Aos interessados em
maiores detalhes sugiro recorrer à internet. Irão dar de cara com um retrato
fiel do futebol brasileiro praticado nos anos 70.
Waldir Peres esteve em três
Copas do Mundo. Na de 1982 não foi perfeito no jogo de estreia, mas seguro e
maduro que estava não deixou que um erro - insistentemente lembrado até hoje -
compromete-se seu futebol. Carrego comigo a impressão de que ele trazia nos olhos o desconforto
dos homens que se sabem, de certa forma, injustiçados. E não seria sem razão.
Para um goleiro de tamanha envergadura aquele detalhe do jogo contra a União
Soviética merecia ter sido relevado, mesmo por aqueles que não o consideravam o
melhor.
No nosso último encontro recordo que lhe perguntaram porque sorria
depois de levar um gol. E Waldir respondeu que não faria sentido chorar. O que
me faz levar em conta que, talvez, o desconforto que citei aqui não passe de um
engano. E não pense vocês também que ele acabou no gol por outra razão que não
fosse talento. Digo isso, porque naquele dia, Rivellino, abusando da intimidade,
depois de dizer que o Babão era terrível, um grande goleiro, afirmou que no dois
toques Waldir era gênio, tinha facilidade pra jogar na linha. E eu, de minha
parte, se escrevo estas linhas é porque quando era moleque adorava jogar no gol.
E quando calhava de fazer uma grande defesa não perdia a chance de gritar bem
alto: Waldir Peres!
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