Traçar um panorama histórico do futebol é algo ambicioso. Mas vou correr o risco, assim driblo também a indignação
de ter visto tudo que aconteceu no clássico entre Vasco e Flamengo. A teoria que
alimento está baseada em sintomas à primeira vista simples, como o
desencanto cada vez mais perceptível nos papos sobre o jogo de bola. Os mais
velhos talvez digam que esse ranço sempre existiu. Mas aí eu volto no tempo e
recordo o papel que o futebol teve na minha formação, recordo o lugar que o jogo
ocupava no coração da meninada. Os da minha geração tiveram o jogo de bola como
um grande catalisador, como algo que nos dava uma certa unidade.
Certamente não
foi por acaso que em determinado momento no nosso país verdadeiras multidões
tenham tomado o rumo dos estádios que vira e mexe eram vistos pulsando ao ritmo
de mais de cem mil corações. Hoje em dia se disseca o futebol, mas nada como
mirá-lo sob a perspectiva do tempo para entender o que estamos passando. Visto
pelo viés histórico o futebol em nós é um sopro. Com esse jeitão supostamente
organizado teria pouco mais de cento e vinte anos. E se levarmos em conta a
origem nobre - o que o impedia de ser de todos - e que demorou mais de duas
décadas para que pudesse ser praticado por negros e se espalhasse pelas várzeas
essa trajetória se encurta ainda mais.
Por essas e outras acredito que o que
estamos vivendo hoje em dia é uma espécie de ocaso do futebol como grande
expressão de nossa cultura. E não me espanta que seja assim tendo em vista
como foi e é tratado ao longo do tempo. O
apogeu possivelmente tenha se dado nos anos 70 o que explicaria o surgimento de
uma seleção como a que tivemos na primeira
Copa do México. O que explica também a insatisfação geral dos que são da geração
que antecedeu a minha. Quem viu o futebol em todo o seu esplendor não tem como
se contentar com o que está aí. Isso me parece claro. De lá pra cá o corpo
lúdico do futebol foi tomado pelo futebol de resultado, pelas Arenas e pelos
programas de sócios-torcedores com suas vocações elitistas, aterrorizado pelas
torcidas organizadas, cuja violência é fenômeno nascido nos anos 90.
Não acho
por isso que o futebol vai acabar. Seguirá movimentando cifras cada vez
maiores, produzindo celebridades, nos divertindo na medida do possível. Mas jamais voltará a ser o que foi, até porque
nosso país e os homens também já não são como foram um dia.
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