Não sou sujeito desses de ficar por aí
atazanando os outros por causa de futebol. Sabe aquele cara chato que quando seu
time dá uma derrapada sempre aparece pra ressaltar o amargor da hora? Sem se
mancar que um papo de futebol com direito a sarro só com intimidade. O tipo
que se dá o direito de pintar na área todo zombeteiro sem ter contigo o mínimo
de convivência não passa de um deselegante. Não é o caso do Jorjão lá do
almoxarifado. Este soube muito bem ir construindo a relação. Sempre educado, sem
pontos de vista descabidos. Figura daquelas que preza essa troca de impressões
sobre o jogo tanto quanto o próprio jogo.
Corintiano, como vocês podem imaginar, o sujeito anda que não se cabe. O que tem me impedido, ao menos por hora, de com
ar sacana perguntar para ele - meio de longe - porque é que anda tão escondido
atrás do balcão. O que ele costuma fazer quando o Timão dá aquela
patinada. É homem simples, prova disso é que antes do embate com o Grêmio,
depois de perguntar o que é que eu achava, disse que trazer um pontinho dos
pampas estaria de bom tamanho. Também não é desses que costuma fazer desfeita de
vitórias magras. Mas jamais caia na besteira de falar bem do Rodriguinho perto
dele. Mesmo porque o Jorjão não é que não goste da seleção (ainda mais essa que
aí está) mas é que ele quer saber mesmo é do Corinthians.
Já tentei de tudo
quanto é jeito mostrar pra ele que o meia tem sido fundamental pro time dele. E
ressaltei que não é de agora não, que bastaria ele fazer uma pesquisa breve e
lhe saltaria aos olhos a quantidade de jogos que Rodriguinho ajudou a resolver
fazendo gol ou dando passe. Mas o que me impressiona nesse tipo de torcedor é a
convicção. Depois do embate em Porto Alegre fui ter com ele e quis saber se
continuava pensando o mesmo do goleiro Cássio. Jorjão... não deixou a menor dúvida.
Com a educação costumeira reconheceu a boa fase do titular, mas em
seguida tratou de deixar claro que segue sendo mais o Walter. E não se fala mais
nisso. Sobre o Patriotas, adversário de ontem à noite pela Sul-Americana nem
quis travar conversa. Tempos atrás pelo teor dos papos saquei que pra ele uma
vaga na Libertadores do ano que vem tava de bom tamanho. Mas o sorriso despejado
no meio do nosso último colóquio não me engana. Jorjão anda achando que Papai
Noel, quem sabe, lhe trará um Brasileirão no final do ano. Guardei silêncio
sobre minha dedução, mas pensei comigo: o homem anda cheio de razão pra sonhar
isso. É ou não é?
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