Desde que o charmoso hotel
suiço Bar au Lac deixou de ser o semi-paraíso onde os maiores cartolas do mundo
se hospedavam entre uma reunião e outra na sede da FIFA, e lá gastavam o farto
dinheiro que amealhavam, o mundo do futebol está em xeque. E se a sensação que
nos vem toda vez que a justiça norte-americana se pronuncia a respeito do caso é
a de que não restará uma só biografia intacta entre os manda chuvas do futebol
mundial é porque o modelo de negócios do futebol nunca teve espaço para
inocentes.
Eles pensaram em tudo. Criaram uma máquina tão bem estruturada que
até pouco tempo atrás as sedes da FIFA e da Conmebol tinham status de
embaixada. Isso sem falar em regras como a que impede qualquer intervenção dos
governos dos países membros nas Confederações associadas, ou aquela outra
que decreta punições aos que, por ventura, vierem a recorrer à chamada justiça
comum. Controle total. Dessa lucrativa engrenagem faz parte também a estratégia
de gastar os recursos com aqueles que fazem parte da estrutura de poder. O que
vale tanto para as Confederações quanto para a própria FIFA. A CBF, por exemplo,
nos últimos doze anos gastou 2 bilhões e quatrocentos milhões de reais, sendo
que 48% desses recursos foram usados para a manutenção da entidade.
E tem sido
de entristecer a paralisia da nossa justiça diante de tudo que está acontecendo.
Lembro bem que nas primeiras horas depois da prisão de José Maria Marin, pairou
no ar a esperança de que houvesse desdobramentos por aqui. Como lembro bem que
em um certo início de noite foi noticiado que equipes da Polícia Federal estavam
a caminho da sede da Klefer, de Kleber Leite e da CBF. A que tinha como destino
a Klefer chegou. Mas a que, diziam, estava a caminho da CBF, jamais. No outro
dia pela manhã ficamos sabendo que a entidade, sabendo do que se passava, tinha
se encarregado ela mesma de juntar os documentos e enviar. Um escárnio.
Some-se
a isso o fato de Del Nero, convocado pela CPI do Futebol, dizer que iria mas que
não aceitava o compromisso de dizer apenas a verdade. E não custa lembrar
que tivemos ainda a decisão de uma juíza federal impedindo a cooperação com a
justiça dos EUA e determinando o desbloqueio de contas de alguns réus. Mas quem
sabe agora as coisas mudem. Afinal, o New York Times acaba de estampar em suas
páginas que Ricardo Teixeira é a prova de que a justiça brasileira fracassa na
missão de punir a corrupção.
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