A Olimpíada do Rio pode ser
vista como o ponto final da saga brasileira nos grandes eventos esportivos.
Passamos praticamente uma década na condição de anfitriões. A situação faz com
que eu me sinta um pouco como aquele tipo de pessoa que, mesmo tendo poucos
caraminguás no bolso, se vê na obrigação de receber em casa algum nobre.
Situação em que a única saída possível pra não fazer feio é gastar o que não
tem. Juntos, o Pan de 2007, a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos do Rio devem
consumir quase 70 bilhões de reais. A mídia, de modo geral, não deixou de
fornecer detalhes suficientes para que os interessados pudessem fazer juízo da
valia de tudo isso. Os positivistas dirão que quando tudo foi decidido não
estávamos nessa encruzilhada social e econômica de agora.
Ocorre que as alianças
feitas a partir desses acordos continuam com o mesmo poder de fogo do início, o
que vem a ser ainda mais cruel. Aos interessados sugiro que verifiquem quanto
custou - e está custando - aos nossos governos os estádios erguidos para a Copa.
Sugiro que tomem ciência de tudo que foi construído para o Pan - sob o argumento
de que serviriam para as Olimpíadas - e deixado de lado. E se falo que as
alianças continuam intactas é porque os fatos provam isso.
Dias atrás o Governo
Federal e o Governo do Rio resolveram uma das maiores pendências olímpicas, a
questão energética. Compra de geradores e tal. Os dois aceitaram pagar a conta.
Coisa de 460 milhões de reais, quase meio bilhão. Pouco depois foi a vez do governo do
Distrito Federal dar sua contribuição. Para fazer do estádio Mané Garrincha uma
das sedes do futebol olímpico, os deputados da Câmara Legislativa abraçaram uma
conta que, segundo a secretária-adjunta de Esporte do Distrito Federal, ficará
em 25 milhões. Mas a verdade é que a proposta foi encaminhada sem
previsão orçamentária, o que vocês sabem bem o que significa.
Perto de 460 milhões, 25 milhões soam como quase nada. Mas
se levarmos em conta que o Distrito Federal tem vivido um caos, com a saúde
pública, a educação, a limpeza urbana e outros serviços comprometidos, tudo muda
de figura. Mais um exemplo de que políticos não estão nem aí pra realidade do
país. Se ignoram que o Comitê Internacional lucrou no último ciclo
olímpico 5 bilhões de dólares, ou quase 20 bilhões de reais, deveriam ter
vergonha. Se sabem, deveriam ter mais vergonha ainda. Mas ninguém parece
disposto a dizer para os donos do circo que a situação não nos permite gastar
mais um tostão. Ou seja, esse papo de que não tá fácil pra ninguém continua
valendo só pra nós, que vamos ao circo pra ver o espetáculo, ou para fazer
matérias jornalísticas.
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