O torcedor brasileiro sonha com a
Libertadores. Trata a Copa Sul Americana como o genérico dela. Se diverte como
dá com os
estaduais. Tem certo respeito pela Copa do Brasil. E, quase sempre, desfruta a
conquista de uma Recopa como a possibilidade de um sarro dos bons em cima dos
adversários. Mas o Brasileirão é outra história. E se digo isso não é como quem
emite uma opinião. Digo por me render a uma constatação. Afinal, qualquer
torcedor atento já deve ter percebido que é o Brasileirão, mais do que qualquer
outro torneio, o grande motor das conversas de bola por esse Brasil afora. E
quem sou eu para esclarecer as minúcias que fazem dele dono de tamanho apelo.
Dizer que estão ali espalhados por sua tabela os times mais importantes do
futebol nacional, salvo um ou outro que não conseguiram se sustentar na elite,
seria simplista. O Brasileirão, acertadamente ou não, irá com a gente até o
final do ano. Criará raízes nesse nosso acelerado cotidiano. E, extenso, nos
ofertará um enredo diferente dos outros campeonatos em que os times vão sendo
eliminados, vão ficando pelo caminho. E lá no fim, na profundidade de uma
trigésima oitava rodada, quando o novo campeão estiver revelado, haverá em nós
também uma sensação acentuada de algo que se encerra. Os calendários todos
estarão por um triz e serão esquecidos, vencidos que foram pelo tempo. Talvez
nesta camuflada cumplicidade resida parte do sucesso dele.
Haverá entre nós, no
entanto, aqueles que estarão de olho em tudo, sempre. Capazes de nos dar
detalhes do que se passa nos campos aqui do novo mundo e nos de lá do velho
continente. Mas não falo deles. É em outro tipo que vocês hão de notar a
diferença e, quem sabe, antes do fim concordar com minhas palavras. O
Brasileirão, vejam bem, fará até os distraídos, os poucos interessados, emitirem
alguma opinião, uma versão sobre um lance, um gol perdido. E se por acaso algum
time grande voltar a se debater na zona de rebaixamento, iniciar uma conversa
falando do calvário dele será tão fácil quanto provocar um papo usando como
ponto de partida a previsão do tempo. Previsões, muitas vezes, falíveis como
nossos instintivos palpites de placar. Este Brasileirão, que acaba de começar,
com seu tamanho e seus dramas inevitavelmente terá um quê de novela. Desfilarão
por seus gramados heróis e vilões. Goleadores improváveis e efêmeros. Mas já não
sei se hoje o torcedor lhe corteja ou se, simplesmente, se rende a
ele.
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