quinta-feira, 11 de abril de 2013

Imaginação tática



Desde muito cedo, profissionalmente falando, ouvi que ao treinador eram poucos os milagres possíveis. Ouvi, de muitos, que uma das maiores qualidades que se deve ou se pode esperar de alguém que comanda um time é que tenha noção exata do elenco que tem para trabalhar. Tentar fazer algo que está além da capacidade do grupo seria quase como abrir as portas para o insucesso.
 
E se levarmos em conta que uma parcela muito pequena dos nossos times pode se gabar de ter um elenco dos sonhos e que mesmo alguns dos nossos maiores clubes estão longe de possuir um grupo de atletas em sua maioria acima da média, chega-se à conclusão de que a missão dos treinadores praticamente já nasce minada.E deve se somar a isso o fato de que boa parte dos jogadores capazes de exercer papéis desafiadores, por conforto ou receio, talvez se mostre resistente a inovações ou adaptações na maneira de atuar.
 
Isso tudo tem ficado na minha cabeça desde que tempos atrás lendo uma coluna do mestre Tostão encontrei por lá a citação de que Felipão é um treinador carente de imaginação tática. Gostei tanto do termo que até agora ele não me abandonou. E mais, provocou tanto o meu pensamento a ponto de me convencer de que só mesmo um artigo sobre o tema fosse capaz de, sei lá, exorcizá-lo.
 
As transformações táticas no futebol têm lá seu tempo de maturação. E tanto no passado quanto no presente não se revelaram e se afirmaram de maneira dinâmica. Exigência do jogo ou cautela de quem tem a missão de pensá-lo? O interessante de tentar enxergar o futebol pela perspectiva tática é que fica muito nítido o quanto fazer gols deixou de ser prioridade. E qual o preço de se render ao dogma do futebol moderno de que conter a criação adversária é mais importante do que criar novos meios para derrotá-lo?
 
O preço talvez seja esse, o de condenar o jogo a um ambiente nada propício ao improviso, à criação. Em ambientes assim a imaginação sempre correrá perigo. Felipão não é o único treinador pouco imaginativo do país, claro que não é, mas infelizmente é dele a missão de comandar o time que, por respeito a própria história, deveria defender esse tipo de futebol mais criativo. Por essas e outras, daqui pra frente, os raros treinadores imaginativos taticamente têm tudo pra ganhar a aura daqueles artistas que ao longo da história se fizeram maiores por exercer seu ofício com boa dose de coragem, sem ligar muito para o que vinha sendo feito pelos mestres até então.
 
 
* artigo escrito para o jornal " A Tribuna", Santos

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