Desde muito cedo, profissionalmente falando, ouvi que ao
treinador eram poucos os milagres possíveis. Ouvi, de muitos, que uma das maiores
qualidades que se deve ou se pode esperar de alguém que comanda um time é que
tenha noção exata do elenco que tem para trabalhar. Tentar fazer algo que está
além da capacidade do grupo seria quase como abrir as portas para o insucesso.
E
se levarmos em conta que uma parcela muito pequena dos nossos times pode se
gabar de ter um elenco dos sonhos e que mesmo alguns dos nossos maiores clubes
estão longe de possuir um grupo de atletas em sua maioria acima da média,
chega-se à conclusão de que a missão dos treinadores praticamente já nasce
minada.E deve se somar a isso o fato de que boa parte dos jogadores capazes de exercer
papéis desafiadores, por conforto ou receio, talvez se mostre resistente a
inovações ou adaptações na maneira de atuar.
Isso tudo tem ficado na minha
cabeça desde que tempos atrás lendo uma coluna do mestre Tostão encontrei por
lá a citação de que Felipão é um treinador carente de imaginação tática. Gostei
tanto do termo que até agora ele não me abandonou. E mais, provocou tanto o meu pensamento a ponto de me convencer de que só mesmo um artigo sobre o tema fosse capaz de, sei lá,
exorcizá-lo.
As transformações táticas no futebol têm lá seu tempo de
maturação. E tanto no passado quanto no presente não se revelaram e se afirmaram
de maneira dinâmica. Exigência do jogo ou cautela de quem tem a missão de
pensá-lo? O interessante de tentar enxergar o futebol pela perspectiva tática
é que fica muito nítido o quanto fazer gols deixou de ser prioridade. E qual o
preço de se render ao dogma do futebol moderno de que conter a criação
adversária é mais importante do que criar novos meios para derrotá-lo?
O preço
talvez seja esse, o de condenar o jogo a um ambiente nada propício ao improviso, à
criação. Em ambientes assim a imaginação sempre correrá perigo. Felipão não é o
único treinador pouco imaginativo do país, claro que não é, mas infelizmente é
dele a missão de comandar o time que, por respeito a própria
história, deveria defender esse tipo de futebol mais criativo. Por essas e outras,
daqui pra frente, os raros treinadores imaginativos taticamente têm tudo pra
ganhar a aura daqueles artistas que ao longo da história se fizeram maiores por
exercer seu ofício com boa dose de coragem, sem ligar muito para o que vinha
sendo feito pelos mestres até então.
* artigo escrito para o jornal " A Tribuna", Santos
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