O ranking da FIFA nos reservou mais um golpe no orgulho
ludopédico. Foi preciso correr os olhos sobre a lista por algum tempo até
encontrar o nome do Brasil. Quem fez o exercício exatamente desta forma até dar
de cara com o nosso país passou antes por países como o Equador, Costa do
Marfim, Grécia e Suiça. Por mais que o ranking seja contestável não dá pra negar
que tenha a virtude de nos enfiar goela abaixo a realidade atual do escrete
nacional.
Mas como se trata de futebol existe no fundo, no fundo, uma sensação de
que, de repente, as coisas se encaixam e pimba! Ganhamos mais uma Copa. Paul
Breitner, muito comentado, esteve por aqui semana passada e foi duro na análise. E - sem
qualquer preconceito - quando um alemão diz que estamos precisando mudar de
mentalidade, não de técnico, é porque, definitivamente, as coisas
mudaram. Portanto, caros leitores, tenho a impressão que está estabelecido aí um
conflito de interesses.
Lógico que a Felipão e seus comandados ganhar a Copa
representaria o paraíso. Vencer bastaria. Mas o problema é que tenho a sensação
de que para boa parte dos torcedores brasileiros já não se trata de ganhar ou
não ganhar. Há no nosso imaginário muito mais do que a vontade de um título. Há
o desejo de resgatar o papel que um dia exercemos tão bem e que vai se tornando
inviável.
Já não parece possível que um dia o Brasil entre em campo e o mundo o
veja como uma seleção que todos gostariam de ter pra si. Já não parece possível
que a nossa seleção volte a representar o que a arte de jogar bola tem de mais
refinado. Cadê a ginga? O time que impõe respeito? Cadê o reserva que vira
titular e cai nas graças do planeta? O tempo em que o mundo aguardava ansioso o
momento do Brasil entrar em campo passou. Mas parece que nos recusamos a
aceitar.
Hoje se ainda causamos algum frisson é porque muitos se acham capazes
de tirar uma casquinha desse nosso passado glorioso. Outrora inventávamos armas. Perdemos o que tínhamos de mais
elogiável, perdemos a petulância da ousadia. Resignados, fomos copiar esquemas e
prioridades. Antigamente pouco importava se tínhamos, ou não tínhamos, combinado
tudo com os adversários, éramos, afinal, surpreendentes.
Ou vão querer me
convencer que em 58, 62 ou em 70, vimos exatamente o que era esperado? Nada
disso, transcendemos um pouco em tudo aquilo. Mas sejamos humildes para entender
que fomos mal administrados, que acreditamos em fórmulas que não nos serviam,
que perdemos a coragem e que ao se olhar no espelho hoje o tal décimo nono lugar
é a nossa mais fiel imagem.
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