quinta-feira, 18 de abril de 2013

A questão já não é ganhar

 
O ranking da FIFA nos reservou mais um golpe no orgulho ludopédico. Foi preciso correr os olhos sobre a lista por algum tempo até encontrar o nome do Brasil. Quem fez o exercício exatamente desta forma até dar de cara com o nosso país passou antes por países como o Equador, Costa do Marfim, Grécia e Suiça. Por mais que o ranking seja contestável não dá pra negar que tenha a virtude de nos enfiar goela abaixo a realidade atual do escrete nacional.
 
Mas como se trata de futebol existe no fundo, no fundo, uma sensação de que, de repente, as coisas se encaixam e pimba! Ganhamos mais uma Copa. Paul Breitner, muito comentado, esteve por aqui semana passada e foi duro na análise. E - sem qualquer preconceito - quando um alemão diz que estamos precisando mudar de mentalidade, não de técnico, é porque, definitivamente, as coisas mudaram. Portanto, caros leitores, tenho a impressão que está estabelecido aí um conflito de interesses.
 
Lógico que a Felipão e seus comandados ganhar a Copa representaria o paraíso. Vencer bastaria. Mas o problema é que tenho a sensação de que para boa parte dos torcedores brasileiros já não se trata de ganhar ou não ganhar. Há no nosso imaginário muito mais do que a vontade de um título. Há o desejo de resgatar o papel que um dia exercemos tão bem e que vai se tornando inviável.
 
Já não parece possível que um dia o Brasil entre em campo e o mundo o veja como uma seleção que todos gostariam de ter pra si. Já não parece possível que a nossa seleção volte a representar o que a arte de jogar bola tem de mais refinado. Cadê a ginga? O time que impõe respeito? Cadê o reserva que vira titular e cai nas graças do planeta? O tempo em que o mundo aguardava ansioso o momento do Brasil entrar em campo passou. Mas parece que nos recusamos a aceitar.
 
Hoje se ainda causamos algum frisson é porque muitos se acham capazes de tirar uma casquinha desse nosso passado glorioso. Outrora inventávamos armas. Perdemos o que tínhamos de mais elogiável, perdemos a petulância da ousadia. Resignados, fomos copiar esquemas e prioridades. Antigamente pouco importava se tínhamos, ou não tínhamos, combinado tudo com os adversários, éramos, afinal, surpreendentes.
 
Ou vão querer me convencer que em 58, 62 ou em 70, vimos exatamente o que era esperado? Nada disso, transcendemos um pouco em tudo aquilo. Mas sejamos humildes para entender que fomos mal administrados, que acreditamos em fórmulas que não nos serviam, que perdemos a coragem e que ao se olhar no espelho hoje o tal décimo nono lugar é a nossa mais fiel imagem.

Nenhum comentário: