quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Agruras

Permitam-me dividir agruras com vocês. Sim, agruras. Pode soar estranho. Mas é sincero. Escrever não é o problema. A gente acostuma, treina, transpira, como já ensinava o poetinha, e a coisa flui. Difícil é se entregar a um tema. E, sabe como é, sem entrega a vida não é nada, a coisa não vira.

Por exemplo, dias atrás quando li que o muçulmano Qatar, pra sediar uma Copa do Mundo toparia até dar um drible no alcorão, liberar bebidas alcoólicas, e ainda por cima reconhecer Israel, meio estupefato, tive a nítida sensação de ter descoberto um bom tema para tricotar o meu próximo artigo.

Uma vez ciente dessa capacidade fenomenal da pelada bem organizada pensei em sugerir que fizéssemos de Joseph Blatter, o todo-poderoso da FIFA, o presidente do mundo. Assim ele negociava um mundial com o Irã e, em troca o Mahmoud Ahmadinejah - que em breve vai pintar na nossa área - parava de vez com essa sandice de querer fabricar uma bomba atômica. Diria que com uma boa lábia o homem talvez até voltasse atrás e reconhecesse que o holocausto existiu.

E mais, Blatter poderia amansar a Coréia do Norte, com o argumento de que deixar a bola rolar por lá, isso sim seria fazer o mundo reconhecê-la como potência. E depois, de quebra, convencia o Hugo Chavez de que essa coisa de afrontar os ianques e gastar dinheiro com uma corrida armamentista cucaracha não está com nada. Sediar a Copa de 2026 é que faria dele um grande líder. Calma, calma, era só uma idéia, passou. E depois dessa, muitas outras surgiram, me cutucaram, mas aí veio o final de semana com um sem número de jogos decisivos pelo Campeonato Brasileiro, e eu fiquei dividido.

Recuso, de maneira veemente, qualquer discurso que sugira um final pra essas trinta e oito rodadas. Do Flamengo, enalteci Petcovik, sob a desconfiança de muitos, mas devo dizer que cheguei a dizer que não tinha mais jeito, que o título não ficaria com o rubro-negro carioca.

Com discrição apontei Celso Roth como o melhor treinador dessa edição do Brasileirão, quando o Galo insistia em mostrar bom fôlego. Contestei o argumento de um amigo jornalista que dizia que esse tipo de reconhecimento só viria com o título. Então, fiz questão de deixar claro que não queria entrar nesse jogo injusto que faz um bom trabalho depender de uma taça. Teve muita gente que concordou comigo naquele instante. Mas não é que, a partir dali, o Atlético Mineiro começou a descer a ladeira?

E o Palmeiras, que fez de tudo pra perder a condição de protagonista, a essa hora, seja qual for o resultado diante do Grêmio, já não será o Palmeiras de antes, que ostentava bom crédito e mérito. De todas as minhas apostas, o Cruzeiro talvez seja a única que, apesar de tudo, permanece em pé.

No mais, sou capaz de afirmar apenas que o duelo entre Corinthians e Flamengo no próximo dia 29 de novembro ainda vai dar muito o que falar. Mas, até que combinou, não acham? Porque se a gente reparar bem esse Brasileirão tem vivido mais de agruras do que de deleites, e com essa bola pingando na área, porque não aproveitar e destilar as minhas?

Sobre quem será o campeão, isso seria lugar comum demais. Eles é que façam a parte deles. Torço pra seja com inspiração, porque de transpiração já estamos todos fartos.

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