Um dos donos da casa, de tão fanático, estava indignado até com a nada tradicional meia cinza do time santista. Mal sabia ele que estavam lá por pura superstição. Nenhum detalhe podia ser desprezado. O outro trajava óculos escuros, do tipo "ambervision" e, atento a tudo, já havia providenciado o cenário ideal.
Na lateral da sala, além da TV, uma cadeira ao lado, e sobre ela uma camisa do Santos. Diante da chegada de um novo convidado, bradou:
_ Na cadeira, não! Sentar em cadeira...já viu!
Mas orientou o recém-chegado:
_ Põe a camisa aí na cadeira
E o fez com precisão:
_ Mais pro lado, mais perto da televisão.
Então, o cenário ficou assim:
A tela de 40" e uma cadeira com uma camisa sobre ela de cada lado. Praticamente uma linha de três, disposta a barrar os maus fluidos.
E a Vó Bina, de oitenta e seis anos, sozinha lá no quarto. Por quê? Ora, porque ela prefere assim... porque tem que ser assim. Mas quando o juiz apitou o final da partida logo a Vó pintou na sala. Trajava uma clássica camisa branca do Peixe. Só o símbolo em destaque no peito ousava quebrar a brancura do manto.
Descreveu minuciosamente o ritual praticado durante o duelo com o adversário. Braços cruzados, uma das mãos em figa, e a outra desenhando no antebraço um movimento de vai e vem, que era pra empurrar a bola pra rede.
Depois de dois gols, um frango, um teatro do absurdo - estrelado por Diego Souza e Domingos - e cinco minutos de acréscimo, a alegria imperava. Vó Bina, veio pra dar a benção final, em grande estilo. Fundamental não tinha sido o Madson e seus pulmões de aço. Fundamental tinha sido a imagem de Nossa Senhora das Graças que fica no quarto do Léo, o neto do meio, nosso anfitrião.
Foi isso, Vó Bina entrou na sala e intimou. Fez todo mundo dar as mãos e rezar um Pai Nosso e uma Ave Maria. Não ia deixar barato aquilo tudo. Uniu o grupo. Empolgou. Decretou de vez a festa. Simbolizou tudo o que não aparece na súmula, muito menos nas estatísticas, tampouco no discurso dos comentaristas. Mas é parte do futebol. Uma cena triunfante.
E quando a reza já passava da metade, ao desviar os olhos para a TV, vi o time santista, ainda em campo, protagonizando cena idêntica. Todos de mãos dadas, em círculo, falando em voz alta as santas orações. Terminamos um pouco antes.
Pensa o quê? Vó Bina foi rápida pra convocar o grupo depois de terminada a peleja. E ainda falam que o time do Mancini é que é veloz.
Olha, se ganha quem tem mais fé, isso eu não sei. Mas deixa essa cadeira aí! E tira as mãos dos óculos do cara!
quinta-feira, 23 de abril de 2009
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6 comentários:
Meu caro amigo...
Nós torcedores somos mesmos de uma sorte estranha...
Uma montanha russa de emoções...
Sábado, uma baita felicidade passando para a final do Paulistinha...
E ontem, uma eliminação precoce e rídicula na Copa do Brasil.
Desse jeito, não há fé que dê jeito...
Abraço.
Ton
waguaru@hotmail.com
Ton,
com certo sarcasmo eu diria o seguinte,tem coisa que a fé não resolve, mas se tentamos com ela... ao menos garantimos uma certa distração e esperança.
Abraço
Vladir,
Qual a sua opinião sobre o jogo de domingo? Na minha opinião o Corinthians é bem melhor e se não perder domingo será campeão com certeza. Agora se perder a primeira partida, o Santos será muito perigoso no jogo da volta.
Abraço
qual sua opinião sobre a humilhação imposta ao Santos pelo Corinthians ao ridículo time do santos, time pequeno e sem brilho há muito tempo...que ousou sonhar em ganhar deste Corinthians que joga corretamente, e de um Ronaldo, que apesar das críticas de despeitados como voce, humilhou seu time com o gol mais bonito que a ridícula e minúscula vila belmiro, um estádio tão pequeno quanto seu time, viu...
qual sua opinião ?
Rogério,
embora a resposta seja tardia, quero deixar aqui registrado que concordo com sua opinião sobre o Corinthians. Aliás, como ficou mais do que comprovado.
Abraço
Guilherme,
críticas ao Ronaldo? Tom provocador e agressivo? Acho que você errou de blog.
Diante disso prefirto guardar minha opinião.
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